14.04.2013 Views

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

foi marcada por alterações significativas da or<strong>de</strong>m social, <strong>de</strong>vido ao po<strong>de</strong>r<br />

econômico das cida<strong>de</strong>s italianas, ao amplo <strong>de</strong>senvolvimento do comércio, à<br />

importância social da burguesia, à presença das Universida<strong>de</strong>s e, <strong>sobre</strong>tudo, à<br />

diminuição da força da Igreja na socieda<strong>de</strong>.<br />

Como <strong>de</strong>staca Skinner (2006, p. 38), Dante p<strong>os</strong>icionou-se favorável ao<br />

po<strong>de</strong>r da Monarquia como forma <strong>de</strong> manter o equilíbrio diante da pretensão papal<br />

<strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Seu objetivo era criar uma situação <strong>em</strong> que o governante<br />

pu<strong>de</strong>sse garantir a “restauração da quietu<strong>de</strong> e tranqüilida<strong>de</strong> da paz”. Com essa<br />

preocupação, procurou estabelecer o que era <strong>de</strong> direito d<strong>os</strong> po<strong>de</strong>res papal e<br />

régio. Apresentou o po<strong>de</strong>r real legitimando-o não como fruto do po<strong>de</strong>r religi<strong>os</strong>o,<br />

mas como um po<strong>de</strong>r específico construído pela socieda<strong>de</strong>. Para isso, partiu das<br />

seguintes questões:<br />

Pergunta-se, primeiro, se é ela indispensável à boa or<strong>de</strong>nação do<br />

mundo. A seguir, se o povo romano se atribui com legitimida<strong>de</strong> o<br />

exercício da Monarquia. Por último, se a autorida<strong>de</strong> da Monarquia<br />

lhe v<strong>em</strong> imediatamente <strong>de</strong> Deus, ou lhe é, antes, concedida por<br />

intermédio dum ministro ou vigário <strong>de</strong> Deus (DANTE, 1973, p.<br />

193).<br />

Dante apresenta três questões com as quais se ocupa ao longo da obra<br />

Monarquia. A primeira é a finalida<strong>de</strong> da Monarquia. Ao constatar a necessida<strong>de</strong><br />

do governo, discute também sua legitimida<strong>de</strong> e, por fim, a orig<strong>em</strong> do po<strong>de</strong>r. Ao<br />

discuti-las, menciona, necessariamente, a orig<strong>em</strong> e a necessida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r real.<br />

Ele não entra no mérito do po<strong>de</strong>r papal, mas discute o po<strong>de</strong>r real e sua orig<strong>em</strong><br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do po<strong>de</strong>r papal. 34<br />

Dante explica a Monarquia como algo específico do gênero humano. Assim<br />

como Deus é o princípio único do universo, o seu correspon<strong>de</strong>nte para as<br />

socieda<strong>de</strong>s humanas é o po<strong>de</strong>r único do Monarca. Segundo Dante, Deus criou o<br />

34 “A dificulda<strong>de</strong> com Dante é que ele, que reproduzia a cada página o conhecimento geral <strong>de</strong> seu<br />

século, dava a cada teor<strong>em</strong>a reproduzido uma perspectiva tão nova e surpreen<strong>de</strong>nte que a<br />

evidência provando sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> serve apenas para sublinhar a novida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua própria abordag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> suas próprias soluções. Seu estratag<strong>em</strong>a era bastante óbvio, pois<br />

o ponto <strong>de</strong> referência <strong>em</strong> relação ao qual montava e orientava seu material, ou o <strong>de</strong>nominador a<br />

que o reduzia, raramente era o fenômeno institucional <strong>em</strong> si; praticamente era s<strong>em</strong>pre o hom<strong>em</strong><br />

por trás da instituição, e nesse sentido, a imag<strong>em</strong> do Príncipe ou Monarca, <strong>de</strong> Dante – ainda que<br />

comp<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> inúmeras tesselas <strong>de</strong> m<strong>os</strong>aico <strong>em</strong>prestadas da teologia e da fil<strong>os</strong>ofia, <strong>de</strong> argument<strong>os</strong><br />

históric<strong>os</strong>, polític<strong>os</strong> e legais da tradição corrente -, reflete um conceito <strong>de</strong> realeza centrada no<br />

Hom<strong>em</strong> e <strong>de</strong> uma Dignitas puramente humana que, s<strong>em</strong> Dante, estaria ausente e, com toda<br />

certeza, teria ficado ausente daquele século” (KANTOROWICZ, 1998, p. 274).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!