14.04.2013 Views

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

antigo regime e o anúncio <strong>de</strong> uma nova era fundava-se também no passado, na<br />

discussão d<strong>os</strong> valores e virtu<strong>de</strong>s que fizeram com que no passado a socieda<strong>de</strong><br />

francesa tivesse pr<strong>os</strong>perado. Ao combater <strong>os</strong> err<strong>os</strong> e as superstições, alertando<br />

<strong>os</strong> homens para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<strong>em</strong> que, para o presente, a história (o<br />

passado) se torna a gran<strong>de</strong> mestra, eles apresentavam <strong>os</strong> rum<strong>os</strong> da ida<strong>de</strong> da<br />

razão. E foi justamente a este aspecto das idéias <strong>em</strong> seu contexto histórico que<br />

Voltaire se fez atento.<br />

Evi<strong>de</strong>ncia-se isso no questionamento que ele faz ao acontecimento<br />

bastante conhecido d<strong>os</strong> franceses: a Noite <strong>de</strong> São Bartolomeu.<br />

A Noite <strong>de</strong> São Bartolomeu per<strong>de</strong>ria hoje algo <strong>de</strong> seu horror se –<br />

supondo-se o imp<strong>os</strong>sível – o Parlamento <strong>de</strong> Paris tivesse baixado<br />

uma <strong>de</strong>cisão que obrigasse todo fiel católico a saltar da cama<br />

quando o sino tocasse para ir mergulhar o punhal no coração d<strong>os</strong><br />

vizinh<strong>os</strong>, d<strong>os</strong> amig<strong>os</strong>, d<strong>os</strong> parentes, d<strong>os</strong> irmã<strong>os</strong> que f<strong>os</strong>s<strong>em</strong> ao<br />

culto protestante? (VOLTAIRE, 2006b, p. 79)<br />

Note-se que o objeto <strong>de</strong> estudo e discussão d<strong>os</strong> autores iluministas foi,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, as instituições. O fato <strong>de</strong> a crítica direta à Igreja, como instituição, ser<br />

bastante visível nas obras d<strong>os</strong> iluministas e, inclusive, ser muito presente na obra<br />

<strong>de</strong> Voltaire, causou, segundo Tocqueville, a impressão <strong>de</strong> que a Revolução<br />

Francesa tinha sido uma revolução religi<strong>os</strong>a. O enfrentamento d<strong>os</strong> autores não foi<br />

direto e incisivo contra figura do monarca, mas contra as instituições que o<br />

sustentavam e que garantiam a manutenção da monarquia absolutista. Ao<br />

combater as instituições que sustentavam o antigo regime, como o <strong>de</strong>nominaram<br />

<strong>os</strong> pensadores da época, faziam-no no sentido <strong>de</strong> alterar a or<strong>de</strong>m social e<br />

política. O fulcro das críticas mais acentuadas eram <strong>os</strong> privilégi<strong>os</strong> da nobreza.<br />

Como apresenta Tocqueville, as instituições que estavam na mira eram as<br />

feudais, que tinham se mantido até o século XVIII; o objetivo não era a extinção<br />

<strong>de</strong> toda e qualquer instituição.<br />

A Revolução não foi feita, como alguns pensaram, para <strong>de</strong>struir o<br />

império das crenças religi<strong>os</strong>as, pois, <strong>em</strong> que pes<strong>em</strong> as<br />

aparências, ela foi essencialmente uma revolução social e<br />

política. No âmbito das instituições <strong>de</strong>sta espécie, sua tendência<br />

não foi, como supunha um <strong>de</strong> seus principais adversári<strong>os</strong>, a <strong>de</strong><br />

perpetuar a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, tornando-a, <strong>de</strong> certo modo, estável e<br />

metodizando a anarquia. Antes pelo contrário, sua tendência foi a<br />

<strong>de</strong> tornar ainda maiores o po<strong>de</strong>r e <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> da autorida<strong>de</strong><br />

pública. Ela não <strong>de</strong>veria, como pensaram outr<strong>os</strong>, paralisar o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!