ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
e <strong>de</strong>cisões conciliares. Dante questiona-<strong>os</strong> pelo fato <strong>de</strong> negar<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r real e<br />
por fundamentar<strong>em</strong> suas teses basicamente na tradição.<br />
Dante (1973, p. 221) discorda d<strong>os</strong> <strong>de</strong>cretalistas por enten<strong>de</strong>r que a tradição<br />
t<strong>em</strong> sua valida<strong>de</strong> na Igreja que a antece<strong>de</strong> e não, como eles quer<strong>em</strong>, que a<br />
tradição vali<strong>de</strong> a Igreja. Assim, já que a tradição é fruto da própria Igreja, para que<br />
a discussão tenha valida<strong>de</strong>, são necessári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> argument<strong>os</strong>.<br />
Após refutar o argumento da tradição, Dante afirma que o pressup<strong>os</strong>to <strong>de</strong><br />
que a autorida<strong>de</strong> do Império <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da autorida<strong>de</strong> da Igreja não po<strong>de</strong> ser aceito<br />
porque contém err<strong>os</strong> <strong>de</strong> raciocínio.<br />
[...] o po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral não recebe do espiritual n<strong>em</strong> a existência,<br />
n<strong>em</strong> a faculda<strong>de</strong> que é a autorida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> mesmo o exercício<br />
puro e simples. Recebe, sim, do po<strong>de</strong>r espiritual<br />
aperfeiçoament<strong>os</strong> aci<strong>de</strong>ntais: age com maior eficácia pela luz da<br />
graça <strong>de</strong> Deus, no céu, e a benção do Sumo Pontífice, na terra,<br />
lhe infun<strong>de</strong>m. E, então, o argumento peca na forma, porquanto o<br />
predicado da conclusão não é extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> da pr<strong>em</strong>issa maior.<br />
Raciocina-se assim: a lua recebe a luz do sol que é o po<strong>de</strong>r<br />
espiritual; o po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral é a lua; logo, o po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral recebe<br />
a autorida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r espiritual. Na extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> da maior põ<strong>em</strong><br />
‘luz’, no predicado da conclusão, ‘autorida<strong>de</strong>’: são, como vim<strong>os</strong>,<br />
coisas diversas no sujeito e na ação (DANTE, 1973, p. 222).<br />
Ele alerta para o fato <strong>de</strong> que cada um d<strong>os</strong> po<strong>de</strong>res t<strong>em</strong> existência,<br />
faculda<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong> distintas. O po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral é distinto do espiritual,<br />
po<strong>de</strong>ndo receber aperfeiçoament<strong>os</strong>. Isto não significa que sua autorida<strong>de</strong><br />
advenha do espiritual. Ele não nega a orig<strong>em</strong> divina do po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral, mas sim a<br />
intermediação da Igreja <strong>em</strong> sua existência, faculda<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong>.<br />
Outro argumento que Dante refuta é o que torna o po<strong>de</strong>r da Igreja superior<br />
ao do Império pelo fato <strong>de</strong> a mesma prece<strong>de</strong>r o Império. Ao recorrer a essa<br />
tradição, Dante <strong>de</strong>monstra que a autorida<strong>de</strong>, na própria Igreja, não é<br />
conseqüência <strong>de</strong> nascimento, ou seja, da ida<strong>de</strong>, pois <strong>os</strong> bisp<strong>os</strong> são geralmente<br />
mais nov<strong>os</strong> que <strong>os</strong> arciprestes.<br />
Entre <strong>os</strong> argument<strong>os</strong> <strong>de</strong> Dante, <strong>de</strong>stacam<strong>os</strong>:<br />
Relacionado com as palavras que Cristo diz a Pedro: ‘E tudo o<br />
que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que <strong>de</strong>sligares<br />
na terra será <strong>de</strong>sligado no céu’ [...]. De on<strong>de</strong> se conclui que o<br />
las colecciones <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisiones canónicas. Las <strong>de</strong>cretales son asimismo cartas papales que<br />
exponen las <strong>de</strong>cisiones <strong>de</strong> la Santa Se<strong>de</strong>” (BOUYER, 1983, p. 199).