ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>de</strong> herança por um senhor secular, uma vez que po<strong>de</strong> ser julgada por um juiz<br />
eclesiástico” (EGÍDIO ROMANO, 1989, p. 185).<br />
Ao atribuir à Igreja um domínio universal, situa seu po<strong>de</strong>r acima do<br />
imperial. É à Igreja que compete o julgamento das p<strong>os</strong>ses e não à realeza. Para<br />
justificar esta tese, ele argumenta com o fato <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> pagar<strong>em</strong> o dízimo à Igreja.<br />
Ora, se o po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral paga dízim<strong>os</strong> à Igreja, isto evi<strong>de</strong>ncia a superiorida<strong>de</strong> do<br />
po<strong>de</strong>r papal <strong>sobre</strong> o real.<br />
Por direito divino e por divina instituição tod<strong>os</strong> estam<strong>os</strong> obrigad<strong>os</strong><br />
a dar <strong>os</strong> dízim<strong>os</strong>, <strong>de</strong> tal maneira que todo po<strong>de</strong>r terreno,<br />
enquanto é terreno e t<strong>em</strong>poral, está obrigado a dar <strong>os</strong> dízim<strong>os</strong> à<br />
autorida<strong>de</strong> espiritual. Tais dízim<strong>os</strong> são dad<strong>os</strong> <strong>em</strong> reconhecimento<br />
da própria servidão, como qualquer um se reconhece servo <strong>de</strong><br />
Deus. Assim, pois, como <strong>os</strong> inferiores são tributári<strong>os</strong> <strong>de</strong> seu<br />
superior para reconhecer<strong>em</strong> que o que têm veio do superior e a<br />
ele são obrigad<strong>os</strong> [...]. Todo po<strong>de</strong>r terreno está, pois, sob o po<strong>de</strong>r<br />
eclesiástico, e especialmente sob o sumo pontífice que, na<br />
hierarquia eclesiástica, atingiu o ápice da Igreja, sob o qual tod<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar sujeit<strong>os</strong>, ‘sejam reis, como soberan<strong>os</strong>’ (1Pd 2,13),<br />
sejam quaisquer outr<strong>os</strong> (EGÍDIO ROMANO, 1989, pp. 46-47).<br />
Outro argumento apresentado por Egídio Romano para justificar a<br />
superiorida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r da Igreja é o fato <strong>de</strong> a autorida<strong>de</strong> sacerdotal ungir a real:<br />
“[...] se observarm<strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong>amente <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio a autorida<strong>de</strong> régia, e <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
foi instituída, uma vez que foi instituída pelo sacerdócio, segue-se que a<br />
autorida<strong>de</strong> régia <strong>de</strong>ve estar sujeita à autorida<strong>de</strong> sacerdotal e especialmente a do<br />
sumo pontífice” (EGÍDIO ROMANO, 1989, p. 47).<br />
Segundo ele, a superiorida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r papal <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> o governo<br />
das coisas ser regido pelo espiritual. É a autorida<strong>de</strong> religi<strong>os</strong>a que institui a civil.<br />
Assim como ocorre na máquina do mundo, <strong>de</strong>veria ocorrer na socieda<strong>de</strong>: “[...]<br />
v<strong>em</strong><strong>os</strong> no governo do universo que toda substância corporal é governada pela<br />
espiritual”, ou seja, “[...] <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> inferiores são regid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> superiores e <strong>os</strong><br />
mais t<strong>os</strong>c<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> mais subtis, e <strong>os</strong> <strong>de</strong> men<strong>os</strong> po<strong>de</strong>r pel<strong>os</strong> mais po<strong>de</strong>r<strong>os</strong><strong>os</strong>”. Por<br />
isso, conclui “[...] é o que v<strong>em</strong><strong>os</strong> na or<strong>de</strong>m e no governo do universo, <strong>de</strong>v<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
imaginar no governo da república e no governo do povo cristão” (EGÍDIO<br />
ROMANO, 1989, pp. 48-49).