ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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governo, exceto <strong>os</strong> da legitimida<strong>de</strong> e da majesta<strong>de</strong> real [...]” (LEPAPE, 1995, p.<br />
26).<br />
O reinado <strong>de</strong> Luís XIV (1638-1715) tinha se estendido por 72 an<strong>os</strong>: 1643 a<br />
1715. Quando herdou o trono tinha apenas cinco an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, até sua<br />
maiorida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1651, a França foi governada pela regente sua mãe, Ana da<br />
Áustria e o ministro Mazarino. Entre 1651 e 1661, Luís permitiu que Mazarino<br />
governasse. Ao assumir o governo, após a morte <strong>de</strong> Mazarino, impôs-se como<br />
governante único da França e adotou a forma <strong>de</strong> governo absolutista.<br />
Entre as medidas adotadas por Luís XIV, <strong>de</strong>stacam<strong>os</strong> a proteção às letras<br />
e às artes, o que fez da França, <strong>sobre</strong>tudo Paris e Versalhes, um centro irradiador<br />
para toda a Europa 10 . Sua morte e a ascensão <strong>de</strong> Luís XV significaram um<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio nas relações <strong>de</strong> forças da socieda<strong>de</strong> francesa.<br />
Voltaire recorreu à história para analisar e discutir a situação francesa <strong>de</strong><br />
sua época. Quando apresenta a figura <strong>de</strong> um rei francês do passado e <strong>de</strong>staca<br />
suas virtu<strong>de</strong>s e qualida<strong>de</strong>s, o faz para evi<strong>de</strong>nciar para seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> as<br />
falhas do governante <strong>de</strong> sua época. Utiliza-se d<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> governantes do<br />
passado para questionar <strong>os</strong> <strong>de</strong>smand<strong>os</strong> do presente. É importante <strong>de</strong>stacar que<br />
essa forma <strong>de</strong> apresentação usada por Voltaire produz um efeito crítico bastante<br />
acentuado e <strong>de</strong> certa forma mais evi<strong>de</strong>nte. 11<br />
As críticas <strong>de</strong> Voltaire à monarquia francesa precisam ser analisadas com<br />
base na própria leitura que ele faz da história francesa. Ao criticar Luis XV, ele se<br />
fundamenta n<strong>os</strong> valores e virtu<strong>de</strong>s inerentes à monarquia francesa, a<strong>os</strong> monarcas<br />
que o antece<strong>de</strong>ram. Esta forma <strong>de</strong> crítica faz com que a corte <strong>de</strong> Versalhes,<br />
apesar <strong>de</strong> tolerar Voltaire, o prefira distante e s<strong>em</strong> autorização para publicar suas<br />
obras na França.<br />
Ao <strong>de</strong>stacar no governo <strong>de</strong> Luís XIV a “infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obras-primas”, 12 com<br />
o qual a França conheceu dias <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras luzes, Voltaire, <strong>em</strong> contrapartida,<br />
<strong>de</strong>ixa transparecer para nós que, <strong>em</strong> seus dias, ainda se vivia d<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> do<br />
passado. Sua crítica a Luís XV se torna mais radical quando engran<strong>de</strong>ce o<br />
10 Peter Burke (1994), na obra A fabricação do rei, <strong>de</strong>monstra o uso que o rei Luís XIV fez das<br />
letras e das artes para a criação <strong>de</strong> uma imag<strong>em</strong> glori<strong>os</strong>a.<br />
11 VOLTAIRE, 1995d, p. 374.<br />
12 VOLTAIRE, 1958d, p. 111.