ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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fazer coletânea <strong>de</strong> jornais do que escrever história (VOLTAIRE,<br />
1973b, p. 214).<br />
Perceb<strong>em</strong><strong>os</strong> que se ocupar da história é uma necessida<strong>de</strong>, mas isto exige<br />
cuidad<strong>os</strong> e certas cautelas por parte d<strong>os</strong> autores do século XVIII. Voltaire aponta<br />
para as mudanças ocorridas nas ciências, que passaram a buscar as leis gerais<br />
para a explicação da realida<strong>de</strong>. Destaca o <strong>de</strong>senvolvimento no estudo da<br />
mat<strong>em</strong>ática e da física, o que, a seu ver, trouxe novas exigências à pesquisa<br />
histórica.<br />
Segundo ele, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> apren<strong>de</strong>r com <strong>os</strong> historiadores antig<strong>os</strong>, observando<br />
que, ao escrever<strong>em</strong> a história, eles enten<strong>de</strong>ram as exigências <strong>de</strong> suas épocas.<br />
Porém, para o século XVIII, com as novida<strong>de</strong>s que se apresentam no campo do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das ciências, <strong>sobre</strong>tudo, a partir do que se <strong>de</strong>nominou<br />
Revolução Científica, escrever história tornou-se mais complexo.<br />
O que Voltaire percebeu <strong>em</strong> relação às novas exigências é que a escrita da<br />
história era uma preocupação <strong>de</strong> sua época. Segundo ele, no século XVIII:<br />
As ciências do hom<strong>em</strong> realizam progress<strong>os</strong> imens<strong>os</strong>,<br />
continuando, no entanto, imperfeitas. Vam<strong>os</strong> encontrar nestas<br />
ciências o espírito e <strong>os</strong> process<strong>os</strong> da ‘física’. Quanto ao espírito,<br />
verifica-se que as causas finais foram eliminadas, que se afastou<br />
a noção <strong>de</strong> Providência e se admitiu o p<strong>os</strong>tulado do<br />
<strong>de</strong>terminismo; o hom<strong>em</strong>, doravante, só quer levar <strong>em</strong> linha <strong>de</strong><br />
conta as causas eficientes e naturais: meio físico, necessida<strong>de</strong>s<br />
humanas, sentiment<strong>os</strong>, paixões, idéias; a observação d<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>,<br />
direta ou por intermédio <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhas, e o raciocínio<br />
experimental são <strong>os</strong> métod<strong>os</strong> adotad<strong>os</strong>. Quanto a<strong>os</strong> process<strong>os</strong><br />
verifica-se uma <strong>de</strong>scrição minuci<strong>os</strong>a das sucessões constantes,<br />
para discernir enca<strong>de</strong>ament<strong>os</strong> e alcançar as leis, uma tendência<br />
para reduzir as leis ao menor número p<strong>os</strong>sível <strong>de</strong> princípi<strong>os</strong><br />
gerais (MOUSNIER E LABROUSSE, 1968, p. 66).<br />
Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, ainda não po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> falar <strong>de</strong> ciências humanas com o<br />
entendimento que t<strong>em</strong><strong>os</strong> hoje, já que as mesmas se constituíram enquanto tal a<br />
partir do século XIX. O que t<strong>em</strong><strong>os</strong> no século XVIII são discussões que, mais tar<strong>de</strong>,<br />
no XIX, se afirmaram e pontuaram <strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> das ciências que teriam como<br />
objeto o próprio hom<strong>em</strong>.<br />
O que está muito presente na discussão histórica <strong>de</strong> Voltaire e d<strong>os</strong> autores<br />
do século XVIII é, <strong>sobre</strong>tudo, o fato <strong>de</strong> afastar a providência das explicações para<br />
as questões humanas. Para isso, a história se torna um instrumental