ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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interpretar Voltaire como um autor conservador, que nada mais preten<strong>de</strong> e busca<br />
que retomar <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong> valores que já foram vivenciad<strong>os</strong> <strong>em</strong> moment<strong>os</strong><br />
passad<strong>os</strong> pela monarquia na França. Do ponto <strong>de</strong> vista do comentário <strong>de</strong><br />
Cassirer, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> afirmar que as idéias <strong>de</strong> Voltaire também po<strong>de</strong>m ser vistas<br />
como simplesmente conservadoras.<br />
Defen<strong>de</strong>m<strong>os</strong> <strong>em</strong> n<strong>os</strong>so trabalho que as duas leituras/interpretações <strong>de</strong><br />
Voltaire corr<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong> simplificações, o que <strong>de</strong>smereceria a importância <strong>de</strong>le<br />
como autor e <strong>de</strong> sua obra para o entendimento da socieda<strong>de</strong> francesa pré-<br />
revolucionária. A redução <strong>de</strong> Voltaire a uma <strong>de</strong>ssas duas leituras compromete<br />
inclusive o entendimento das próprias contradições que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocaram na<br />
Revolução <strong>de</strong> 1789 e caracterizaram o processo revolucionário francês. Como<br />
autor, Voltaire precisar ser interpretado com base <strong>em</strong> sua própria época para não<br />
incorrerm<strong>os</strong> no equívoco <strong>de</strong> exigir <strong>de</strong>le uma afinida<strong>de</strong> ou fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica<br />
própria <strong>de</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> dias e idéias.<br />
Destacam<strong>os</strong> aqui a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer as duas leituras p<strong>os</strong>síveis da<br />
obra <strong>de</strong> Voltaire. Não po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> n<strong>os</strong> ater apenas ao seu aspecto revolucionário,<br />
quando <strong>de</strong>fendia radicalmente as mudanças necessárias à socieda<strong>de</strong> francesa.<br />
N<strong>em</strong> tampouco interpretá-lo simplesmente como um conservador. A leitura <strong>de</strong><br />
Voltaire, para não conduzir a uma diminuição <strong>de</strong> sua importância, <strong>de</strong>ve se pautar<br />
no que fez com que sua obra permitisse leituras tão paradoxais.<br />
Isso po<strong>de</strong> ser constatado <strong>em</strong> sua obra e n<strong>os</strong> p<strong>os</strong>icionament<strong>os</strong> que tomou<br />
<strong>em</strong> face <strong>de</strong> alguns probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> sua época. Em relação à perseguição religi<strong>os</strong>a,<br />
na intolerância a<strong>os</strong> calvinistas, Voltaire não teve s<strong>em</strong>pre o mesmo <strong>em</strong>penho.<br />
T<strong>em</strong><strong>os</strong> como ex<strong>em</strong>plo, <strong>os</strong> dois cas<strong>os</strong> n<strong>os</strong> quais se ocupou, o do pastor François<br />
Rochette e o episódio Calas. 15<br />
Voltaire busca <strong>de</strong>smistificar a figura do rei ao atribuir valor às suas ações.<br />
“[...] Dev<strong>em</strong><strong>os</strong> tanto conhecer as gran<strong>de</strong>s acções (sic) d<strong>os</strong> soberan<strong>os</strong> que<br />
tornaram seus pov<strong>os</strong> melhores e mais felizes, como ignorar <strong>os</strong> reis vulgares, cuja<br />
l<strong>em</strong>brança viria apenas <strong>sobre</strong>carregar-n<strong>os</strong> a m<strong>em</strong>ória” (VOLTAIRE, 1958b, p.<br />
117). Os homens precisam não apenas cumprir <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong> <strong>de</strong>sígni<strong>os</strong> e<br />
obe<strong>de</strong>cer<strong>em</strong> a cert<strong>os</strong> dogmas, mas adquirir<strong>em</strong> o entendimento para agir e exigir<br />
15 Ver<strong>em</strong><strong>os</strong> com mais <strong>de</strong>talhes a atuação <strong>de</strong> Voltaire <strong>em</strong> relação à questão da tolerância, à <strong>de</strong>fesa<br />
que fez <strong>de</strong> Jean Calas.