ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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Nós historiadores cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong>, som<strong>os</strong> um caso b<strong>em</strong><br />
diferente; acontece-n<strong>os</strong> muitas vezes a mesma coisa que às<br />
potências <strong>em</strong> guerra. [...] cada partido canta vitória, cada um t<strong>em</strong><br />
razão por seu lado (VOLTAIRE, 2006a, p. 8-9).<br />
A ênfase <strong>de</strong> Voltaire na crítica a<strong>os</strong> historiadores que ainda aceitam feit<strong>os</strong><br />
fantástic<strong>os</strong> e miracul<strong>os</strong><strong>os</strong> como verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> fundamenta-se <strong>em</strong> sua abordag<strong>em</strong><br />
da história como um feito humano, p<strong>os</strong>sível a tod<strong>os</strong> e a qualquer ser humano. Por<br />
isso, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> apren<strong>de</strong>r com a história, ou seja, com <strong>os</strong> antepassad<strong>os</strong>, pois eles<br />
fizeram o que também a nós é p<strong>os</strong>sível fazer.<br />
Importante <strong>de</strong>monstrar que Voltaire procura <strong>de</strong>stacar, entre <strong>os</strong> feit<strong>os</strong><br />
human<strong>os</strong>, as artes, as ciências e a religião, ou seja, o que p<strong>os</strong>sibilitou o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento d<strong>os</strong> homens e das socieda<strong>de</strong>s. Alerta para p<strong>os</strong>síveis equívoc<strong>os</strong>,<br />
<strong>sobre</strong>tudo d<strong>os</strong> historiadores cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> <strong>em</strong> relação a<strong>os</strong> <strong>de</strong>talhes. Isso<br />
ocorre, segundo ele, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> d<strong>os</strong> interesses d<strong>os</strong> historiadores, o que, a seu<br />
ver, não chega a ser um probl<strong>em</strong>a, uma vez que “cada um t<strong>em</strong> razão por seu<br />
lado” (VOLTAIRE, 2006a, p. 9).<br />
Somando-se a esse cuidado <strong>de</strong> Voltaire com as fontes e com as<br />
p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>las, b<strong>em</strong> como d<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> interesses que permeiam<br />
a produção historiográfica, encontram<strong>os</strong> <strong>os</strong> pilares <strong>de</strong> sustentação <strong>de</strong> sua<br />
investigação da história.<br />
A fil<strong>os</strong>ofia voltariana da história se fundou <strong>sobre</strong> idéias naquela<br />
época banais, que não são mais as n<strong>os</strong>sas. O romantismo n<strong>os</strong><br />
ensinou a consi<strong>de</strong>rar a nação como uma realida<strong>de</strong> natural,<br />
realçando o sentimento, até mesmo como instintivo. Mas o<br />
período clássico a apresentou como uma criação da política.<br />
Estes são <strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s soberan<strong>os</strong> que ‘formam’ as nações, <strong>em</strong><br />
‘rompante com a natureza’. Os homens, por si mesm<strong>os</strong>, não são<br />
verda<strong>de</strong>iramente homens, mas mediante seus esforç<strong>os</strong> se livram<br />
da animalida<strong>de</strong>: bestas ferozes governam bestas ferozes’, até o<br />
advento d<strong>os</strong> heróis que <strong>os</strong> <strong>de</strong>spertam à vida civilizada (POMEAU,<br />
1957, p. 22 - tradução n<strong>os</strong>sa). 7<br />
7 «La phil<strong>os</strong>ophie voltariense <strong>de</strong> l´histoire se fondait sur <strong>de</strong>s idées alors banales, qui ne sont plus<br />
les nôtres. Le romantisme nous a appris à considérer la nation comme un e réalité naturelle,<br />
relevant du sentiment, voire <strong>de</strong> l´instinct. Mais à l´âge classique, elle apparaît comme une création<br />
<strong>de</strong> la politique. Ce sont les grands souverains qui ‘forment’ les nations, en ‘forçant la nature’. Les<br />
hommes eux-mêmes ne sont vraiment hommes que par l´effort qui les arrache à l´animalité: ‘bêtes<br />
farouches governées par <strong>de</strong>s bêtes farouches’, jusqu´à l´avèn<strong>em</strong>ent du hêr<strong>os</strong> qui les éveillera à la<br />
vie civilisée» (POMEAU, 1957, p. 22).