ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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distinta e mais complexa do que a anterior. Constatam<strong>os</strong> que ainda no século<br />
XVIII a Igreja exerce um papel <strong>de</strong> governo. Devido às querelas religi<strong>os</strong>as<br />
advindas da Reforma do século XVI, a influência da Igreja <strong>sobre</strong> a Monarquia<br />
francesa, mais especificamente, tornou-se prejudicial ao <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
socieda<strong>de</strong>. Esta será a tônica da discussão d<strong>os</strong> autores do século XVIII, que<br />
passam a propor a separação <strong>de</strong>finitiva entre a Igreja e o Estado.<br />
N<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> do século XVIII, aparece, <strong>de</strong> forma bastante<br />
acentuada, a crítica à Teoria do direito Divino d<strong>os</strong> reis. Com a formação d<strong>os</strong><br />
Estad<strong>os</strong> Nacionais Mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, a partir do século XIV e XV, a centralização<br />
monárquica e o po<strong>de</strong>r absoluto d<strong>os</strong> reis se justificavam porque eram uma forma<br />
<strong>de</strong> garantir a or<strong>de</strong>m e a paz e, portanto, a pr<strong>os</strong>perida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> <strong>em</strong><br />
formação. Naquele momento histórico <strong>de</strong> formação d<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, a<br />
centralização foi a forma <strong>de</strong> garantir a <strong>sobre</strong>vivência e o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
socieda<strong>de</strong>s. Já no século XVIII, este po<strong>de</strong>r absoluto d<strong>os</strong> reis é consi<strong>de</strong>rado lesivo<br />
à socieda<strong>de</strong>.<br />
[...] episódi<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong> na Ida<strong>de</strong> Média ainda justificavam a<br />
superiorida<strong>de</strong> do rei e da nobreza. Segundo essa leitura da<br />
história da França, o momento fundador do Estado havia<br />
estabelecido as hierarquias e <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> s<strong>em</strong> <strong>os</strong> quais a or<strong>de</strong>m<br />
pública não po<strong>de</strong>ria se manter estável. A orig<strong>em</strong> medieval era<br />
<strong>de</strong>cisiva, romper com esse legado significava ameaçar a própria<br />
integrida<strong>de</strong> nacional. A estrutura hierárquica que ela havia criado<br />
sustentara todo o <strong>de</strong>senvolvimento p<strong>os</strong>terior, construindo a<br />
referência el<strong>em</strong>entar para o funcionamento do Estado. Voltaire<br />
escreve a respeito da Monarquia medieval para combater essa<br />
interpretação da orig<strong>em</strong> da hierarquia nobiliária (MIRANDA 2003,<br />
fl. 146).<br />
Em seu combate ao absolutismo, <strong>os</strong> teóric<strong>os</strong> do século XVIII precisaram<br />
retornar à Ida<strong>de</strong> Média, quando, <strong>em</strong> razão da ascensão da burguesia e do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das cida<strong>de</strong>s e do comércio, se estruturaram <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> do<br />
Estado. Isso porque, no século XVIII, tinham <strong>de</strong>spontado novas relações sociais<br />
que não mais justificavam tais princípi<strong>os</strong> e estrutura. Porém, como <strong>de</strong>staca<br />
Miranda, não era p<strong>os</strong>sível romper simplesmente com esse legado, já que isso<br />
ameaçaria a própria integrida<strong>de</strong> nacional francesa.<br />
Por isso, esses filósof<strong>os</strong> explicam o po<strong>de</strong>r do rei como um construto<br />
humano, fruto das relações que se estabeleceram no interior da própria