ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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consi<strong>de</strong>ra ambas as instituições, protagonistas da discussão <strong>de</strong> Dante, como<br />
construção da razão.<br />
Para Voltaire, as instituições são frut<strong>os</strong> da razão. Apresentando-as <strong>de</strong>ssa<br />
forma, ele procura <strong>de</strong>smistificá-las. No século XVIII, o po<strong>de</strong>r do rei era aceito<br />
como divino. Voltaire recorre à história para esclarecer que o po<strong>de</strong>r real foi<br />
tornado divino pelas teorias, pelas explicações criadas pel<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> homens.<br />
Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rm<strong>os</strong> com a história, pois é ela a mestra que n<strong>os</strong><br />
esclarece como tudo foi construído e preservado ao longo do t<strong>em</strong>po.<br />
Assim, se, para Dante, no início do século XIV, não era p<strong>os</strong>sível negar a<br />
orig<strong>em</strong> divina do hom<strong>em</strong> e, portanto da própria socieda<strong>de</strong>, Voltaire, mesmo que<br />
admita a existência <strong>de</strong> Deus, nega-lhe a interferência n<strong>os</strong> <strong>de</strong>sígni<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, já<br />
que o próprio Deus <strong>de</strong>u-n<strong>os</strong> capacida<strong>de</strong> para viver livr<strong>em</strong>ente.<br />
Voltaire procura <strong>de</strong>monstrar que o próprio entendimento do po<strong>de</strong>r como <strong>de</strong><br />
orig<strong>em</strong> divina e da intervenção <strong>de</strong> Deus na vida d<strong>os</strong> homens “[...] é fruto da razão<br />
cultivada” (VOLTAIRE, 2007a, p. 49), portanto, é humano e histórico.<br />
Para ele, tanto a Igreja quanto a Monarquia como instituições são<br />
construções humanas e o que se observa na história é que “[...] as religiões<br />
permanec<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre mais que <strong>os</strong> impéri<strong>os</strong>”. 40 Nesse sentido, a história ensina;<br />
com base nela é p<strong>os</strong>sível perceber até mesmo que a própria divinda<strong>de</strong> é uma<br />
construção humana, que, por intermédio d<strong>os</strong> dogmas e das doutrinas, orienta e<br />
dirige a vida d<strong>os</strong> homens.<br />
Frisam<strong>os</strong> aqui que as disputas <strong>em</strong> pauta no século XIV explicam-se pelo<br />
contexto <strong>de</strong> centralização das Monarquias na Europa, já apontado por João<br />
Quidort e Dante. Voltaire interpreta esse momento como uma crise da Igreja<br />
Romana e d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> impéri<strong>os</strong>, <strong>em</strong> razão da formação d<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> estad<strong>os</strong><br />
nacionais.<br />
Segundo Voltaire, isso se <strong>de</strong>veu ao enfraquecimento <strong>de</strong> Roma, ou seja, da<br />
Igreja Romana, e d<strong>os</strong> imperadores que não p<strong>os</strong>suíam mais o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conter as<br />
mudanças que indicavam o surgimento <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong> organização política.<br />
Já começou o Século XIV. Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> observar que há seiscent<strong>os</strong><br />
an<strong>os</strong> Roma fraca e infeliz é s<strong>em</strong>pre o único assunto da Europa:<br />
40 «Les religions durent toujours plus que les <strong>em</strong>pires» (VOLTAIRE, 1878, p. 123 – tradução<br />
n<strong>os</strong>sa).