ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
humanida<strong>de</strong> o ganho do “[...] maior hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> literatura <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong><br />
[...]”, 9 segundo Goethe (1749-1832).<br />
Na época <strong>de</strong> Voltaire, a ascensão por mérito ainda era algo bastante<br />
recente na socieda<strong>de</strong> francesa, marcada ainda pela concessão <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong><br />
como algo transmitido pelo sangue, pela <strong>de</strong>scendência nobre.<br />
Hobsbawm n<strong>os</strong> apresenta a estatística d<strong>os</strong> privilegiad<strong>os</strong> franceses. São<br />
“[...] as 400 mil pessoas aproximadamente que, entre <strong>os</strong> 23 milhões <strong>de</strong> franceses,<br />
formavam a nobreza, a inquestionável ‘primeira linha’ da nação [...]”. Uma das<br />
características da nobreza era o fato <strong>de</strong> ainda <strong>em</strong> pleno século XVIII, gozar<strong>em</strong><br />
“[...] <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ráveis privilégi<strong>os</strong>, inclusive <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> vári<strong>os</strong> imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> (mas<br />
não <strong>de</strong> tant<strong>os</strong> quanto o clero, mais b<strong>em</strong> organizado), e do direito <strong>de</strong> receber<br />
tribut<strong>os</strong> feudais” (HOBSBAWM, 2004, p. 87).<br />
A manutenção <strong>de</strong> tribut<strong>os</strong> feudais, ou melhor, <strong>de</strong> algumas instituições<br />
feudais, <strong>de</strong>terminou a forma d<strong>os</strong> autores do século XVIII se referir<strong>em</strong> à Ida<strong>de</strong><br />
Média. Em seu discurso, eles <strong>de</strong>finiam o período medieval como sinônimo <strong>de</strong><br />
atraso e <strong>de</strong> trevas para a humanida<strong>de</strong>. Destacam<strong>os</strong> que o enfrentamento <strong>em</strong><br />
relação à Ida<strong>de</strong> Média é político já que a luta é contra <strong>de</strong>terminadas instituições<br />
que permaneceram até o século XVIII e que, por seu anacronismo, não mais<br />
favoreciam o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>.<br />
Politicamente, a nobreza passava por uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprestígio e<br />
<strong>de</strong>cadência, mesmo gozando <strong>de</strong> privilégi<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong> – isenção <strong>de</strong> imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e<br />
recebimento <strong>de</strong> tribut<strong>os</strong>. “A monarquia absoluta, conquanto inteiramente<br />
aristocrática e até mesmo feudal no seu eth<strong>os</strong>, tinha <strong>de</strong>stituído <strong>os</strong> nobres <strong>de</strong> sua<br />
in<strong>de</strong>pendência política e responsabilida<strong>de</strong> e reduzido ao mínimo suas velhas<br />
instituições representativas ‘estad<strong>os</strong>’ e parl<strong>em</strong>ents” (HOBSBAWM, 2004, p. 87-<br />
88). A nobreza sofria perdas políticas no espaço <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r até então por ela<br />
monopolizado.<br />
Ladurie n<strong>os</strong> apresenta o importante papel que a nobreza <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhava<br />
para a monarquia, por ele <strong>de</strong>nominada clássica. A monarquia, que “correspon<strong>de</strong> a<br />
um Antigo Regime”. (LADURIE, 1994, p. 9), não está restrita ao caso francês,<br />
mas é extensiva a outras monarquias européias, como Inglaterra, Espanha, Itália.<br />
9 No Apêndice da obra Deus e <strong>os</strong> homens (VOLTAIRE, 2000a, p. 199). T<strong>em</strong><strong>os</strong> opiniões <strong>sobre</strong><br />
Voltaire. Entre outras a afirmação <strong>de</strong> Goethe (1749-1832), autor al<strong>em</strong>ão, consagrado como um<br />
d<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> da literatura mundial.