ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[...] O atraso da época verifica-se pelo número <strong>de</strong><br />
camponeses que rasgam <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> balões; pel<strong>os</strong><br />
artesã<strong>os</strong> que se revoltaram quando surgiram <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />
pára-rai<strong>os</strong>; pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gente que acreditava na<br />
magia, <strong>em</strong> feitiç<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> duen<strong>de</strong>s, n<strong>os</strong> lobisomens; tudo isto<br />
constituía um oceano humano do qual <strong>em</strong>ergia um punhado<br />
<strong>de</strong> filósof<strong>os</strong> e sábi<strong>os</strong> (MOUSNIER & LABROUSSE, 1968, p.<br />
83).<br />
Foi nesse contexto que Voltaire se fez um autor consagrado. No entanto,<br />
sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que um autor não se faz apenas <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po e da<br />
socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que vive. Pois é o seu p<strong>os</strong>icionamento político e enfrentamento das<br />
questões <strong>de</strong> sua época que faz<strong>em</strong> com que o mesmo se torne uma referência<br />
para seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> e, mais tar<strong>de</strong>, sua obra seja consi<strong>de</strong>rada importante<br />
para o entendimento e discussão <strong>de</strong> sua época. Por isso, no segundo capítulo,<br />
apresentam<strong>os</strong> obras e autores <strong>de</strong> outro momento histórico, o século XIV, quando<br />
se <strong>de</strong>u a formação das diversas nações européias e do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Estado que, no<br />
século XVIII, estava <strong>em</strong> franco <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Destacam<strong>os</strong> que o próprio Voltaire teve condições <strong>de</strong> refletir sua época<br />
porque apren<strong>de</strong>u com a história. Ele foi resultado <strong>de</strong> sua busca da história da<br />
humanida<strong>de</strong>, da história d<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> e, <strong>sobre</strong>tudo, da socieda<strong>de</strong> francesa.<br />
Foi com essa base <strong>de</strong> conhecimento que ele <strong>de</strong>senvolveu a discussão <strong>de</strong> que <strong>os</strong><br />
homens, seres históric<strong>os</strong>, só po<strong>de</strong>rão pr<strong>os</strong>perar se tiver<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r com a história.<br />
Mas a história que po<strong>de</strong>ria ensinar a<strong>os</strong> homens, segundo Voltaire e <strong>os</strong><br />
autores do século XVIII, seria somente aquela que rompesse com as explicações<br />
transcen<strong>de</strong>ntes da natureza e da socieda<strong>de</strong>. Por isso, esses autores procuram<br />
<strong>de</strong>svencilhar a história d<strong>os</strong> <strong>de</strong>sígni<strong>os</strong> da Providência, convict<strong>os</strong> <strong>de</strong> que <strong>os</strong> homens<br />
constro<strong>em</strong> sua existência por meio <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m até ter sido dadas<br />
por Deus, mas, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong>las mesmas, o próprio Deus não mais se ocupa d<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>sígni<strong>os</strong> human<strong>os</strong>. Segundo Voltaire (2000a, p. 187), “[...] se Deus tivesse<br />
querido dar alguma or<strong>de</strong>m, ele a teria feito ouvir por toda a terra, assim como <strong>de</strong>u<br />
luz a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> olh<strong>os</strong>. Por isso, sua lei está no coração <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres<br />
razoáveis, e não <strong>em</strong> outra parte”.