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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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Depois do terr<strong>em</strong>oto, que <strong>de</strong>struíra três quart<strong>os</strong> <strong>de</strong> Lisboa, <strong>os</strong><br />

sábi<strong>os</strong> do país não haviam encontrado um meio mais eficaz para<br />

prevenir a ruína total do que o <strong>de</strong> proporcionar ao povo um belo<br />

auto-<strong>de</strong>-fé; fora <strong>de</strong>cidido pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra que o<br />

espetáculo <strong>de</strong> algumas pessoas queimadas a fogo lento, com<br />

gran<strong>de</strong> cerimonial, é um segredo infalível para impedir a terra <strong>de</strong><br />

tr<strong>em</strong>er (VOLTAIRE, 1958a, p. 173).<br />

Assim, ao <strong>de</strong>monstrar e questionar o fanatismo e a superstição na<br />

universida<strong>de</strong>, Voltaire indignou-se pelo fato <strong>de</strong> <strong>os</strong> homens esclarecid<strong>os</strong>, ou seja,<br />

<strong>os</strong> que tinham acesso à escolarização, não pautass<strong>em</strong> a explicação da realida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> bases racionais e lógicas. Não se observa aí um questionamento e uma<br />

indignação <strong>de</strong> Voltaire com o fanatismo das massas, mas o alerta <strong>de</strong> que o<br />

mesmo é fruto da formação que <strong>os</strong> homens instruíd<strong>os</strong> lhes dão. De certa forma,<br />

po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> afirmar que, para Voltaire, quando se esclarec<strong>em</strong> <strong>os</strong> homens que<br />

ocupam lugares <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na socieda<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>-se como resultado ações e<br />

<strong>de</strong>cisões necessariamente esclarecidas, que p<strong>os</strong>sibilitarão combater o fanatismo<br />

e a superstição presentes entre <strong>os</strong> homens do povo.<br />

2.3 A Tolerância e sua perspectiva educativa<br />

A questão da tolerância perpassa a vida e a obra <strong>de</strong> Voltaire, já que a<br />

situação político-religi<strong>os</strong>a predominante na França <strong>de</strong> sua época é marcada por<br />

inúmer<strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> 24 e, <strong>sobre</strong>tudo, por medidas do Estado francês. Este, ao<br />

24 Recorr<strong>em</strong><strong>os</strong> a René Pomeau que n<strong>os</strong> apresenta a trajetória d<strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> político-religi<strong>os</strong><strong>os</strong> na<br />

França e seus <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brament<strong>os</strong>. “A consciência francesa ficou marcada pela l<strong>em</strong>brança das<br />

guerras religi<strong>os</strong>as do século XVI, até que ‘93’ viesse apagar antig<strong>os</strong> horrores por outr<strong>os</strong> mais<br />

recentes. Voltaire não se enganava ao escolher, por volta <strong>de</strong> 1720, para sua Henria<strong>de</strong> épica, um<br />

herói e um t<strong>em</strong>a que continuavam a repercutir na opinião cont<strong>em</strong>porânea. Repercussão<br />

amplificada ainda pela atualida<strong>de</strong> da perseguição antijansenista, b<strong>em</strong> como pelo que <strong>sobre</strong>viera<br />

a<strong>os</strong> protestantes. O fracasso da Revogação do edito <strong>de</strong> Nantes ficou, no século XVIII,<br />

patentíssimo. Ao assinar o edito <strong>de</strong> Fontainebleau, <strong>em</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1685, Luís XIV pensava<br />

que venceria a resistência d<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> recalcitrantes. [...] Depois da morte do rei, teria sido sensato<br />

apren<strong>de</strong>r a lição com o fracasso. Ora, foi a <strong>de</strong>cisão contrária que se adotou. O duque <strong>de</strong> Bourbon,<br />

primeiro-ministro, faz o jov<strong>em</strong> Luís XV <strong>de</strong>clarar que o <strong>de</strong>sígnio do rei da França continuava a ser o<br />

<strong>de</strong> extirpar a heresia (1724). As antigas leis voltam a viger: pena capital contra <strong>os</strong> pastores<br />

surpreendid<strong>os</strong> no exercício <strong>de</strong> seu ministério; quanto a<strong>os</strong> protestantes pres<strong>os</strong> <strong>em</strong> flagrante <strong>de</strong>lito<br />

<strong>de</strong> praticar o culto, galés perpétuas para <strong>os</strong> homens, prisão perpétua para as mulheres. Houve<br />

<strong>em</strong>penho na aplicação <strong>de</strong> um código tão cruelmente repressivo” (POMEAU, 2000, p. 9-10).

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