ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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O que observo apenas é que, salvo esses t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong><br />
fanatismo sanguinário que extingu<strong>em</strong> toda humanida<strong>de</strong> e que<br />
tornam <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes, as leis, a religião <strong>de</strong> um povo objeto do<br />
horror <strong>de</strong> outro povo, todas as nações achavam ótimo que seus<br />
vizinh<strong>os</strong> tivess<strong>em</strong> seus <strong>de</strong>uses particulares e muitas vezes<br />
imitass<strong>em</strong> o culto e as cerimônias d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> (VOLTAIRE,<br />
2007a, p. 51).<br />
Da mesma forma, como ele m<strong>os</strong>tra que uma mesma socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />
apresentar perfis distint<strong>os</strong> <strong>em</strong> diferentes moment<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>, consi<strong>de</strong>ra<br />
necessário que tenham<strong>os</strong> sensibilida<strong>de</strong> e aprendam<strong>os</strong> com isso. Assim, aponta<br />
para a necessida<strong>de</strong> da tolerância como pressup<strong>os</strong>to da convivência entre as<br />
nações. A presença do diferente <strong>em</strong> outras nações é salutar, pois serve inclusive<br />
<strong>de</strong> referência para as <strong>de</strong>mais. O fanatismo <strong>de</strong> um povo, <strong>de</strong> uma nação, provoca o<br />
horror a seus vizinh<strong>os</strong>, porém <strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> fanatismo não po<strong>de</strong>m perdurar por<br />
muito t<strong>em</strong>po, pois isso levaria à <strong>de</strong>struição da própria socieda<strong>de</strong>.<br />
Voltaire, após mencionar que <strong>os</strong> ju<strong>de</strong>us foram tolerantes <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong><br />
moment<strong>os</strong>, procura explicar como a intolerância presente entre <strong>os</strong> cristã<strong>os</strong>,<br />
<strong>sobre</strong>tudo <strong>em</strong> sua época, é contrária às origens do cristianismo.<br />
De todas as religiões, a cristã é, s<strong>em</strong> dúvida, a que <strong>de</strong>ve inspirar<br />
mais tolerância, <strong>em</strong>bora até aqui <strong>os</strong> cristã<strong>os</strong> tenham sido <strong>os</strong> mais<br />
intolerantes <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> homens. Jesus, que se dignou nascer no<br />
meio da pobreza e da baixeza, tal como <strong>os</strong> seus irmã<strong>os</strong>, nunca<br />
se dignou praticar a arte da escrita. Os ju<strong>de</strong>us tinham uma lei<br />
escrita com extr<strong>em</strong>o pormenor mas não t<strong>em</strong><strong>os</strong> uma única linha<br />
da mão <strong>de</strong> Jesus. Os apóstol<strong>os</strong> dividiram-se <strong>sobre</strong> muit<strong>os</strong> pont<strong>os</strong>.<br />
São Pedro e São Barnabé comiam carnes proibidas <strong>em</strong><br />
companhia d<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> cristã<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> mas abstinham-se<br />
quando acamaradavam com <strong>os</strong> cristã<strong>os</strong> ju<strong>de</strong>us. São Paulo, que<br />
lhes censurava esta conduta, o mesmo São Paulo fariseu, que<br />
fora discípulo do fariseu Gamaliel, que perseguira furi<strong>os</strong>amente<br />
cristã<strong>os</strong> e que, <strong>de</strong>pois do seu rompimento com Gamaliel, se<br />
tornou cristão, iria <strong>de</strong>pois, no entanto, sacrificar no t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />
Jerusalém, no t<strong>em</strong>plo do seu ap<strong>os</strong>tolado. Observou publicamente<br />
durante oito dias todas as cerimônias da lei judaica a que<br />
renunciara; ajuntou mesmo <strong>de</strong>voções e purificações excessivas;<br />
enfim, judaizou inteiramente (VOLTAIRE, 1973b, p. 297).<br />
Ao apresentar a tolerância historicamente, Voltaire orienta a socieda<strong>de</strong><br />
francesa para a percepção <strong>de</strong> que, <strong>em</strong> suas raízes culturais, no caso, a religião,<br />
ocorre uma gran<strong>de</strong> contradição e negação das origens. Com isso, evi<strong>de</strong>ncia-se <strong>de</strong><br />
certa forma <strong>os</strong> <strong>de</strong>svi<strong>os</strong> da instituição Igreja, a qual, <strong>em</strong> sua época, assumia um