ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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e a nação. Os reis da Inglaterra não podiam n<strong>em</strong> fazer leis, n<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>las abusar s<strong>em</strong> o concurso do Parlamento. Isabel <strong>de</strong> Castela<br />
havia respeitado <strong>os</strong> privilégi<strong>os</strong> das Cortes, que constituíam <strong>os</strong><br />
Estad<strong>os</strong> do Reino. Fernando, o Católico não tinha podido <strong>de</strong>struir<br />
a autorida<strong>de</strong> do justiceiro, que se acreditava com o direito <strong>de</strong><br />
julgar <strong>os</strong> reis. Só a França, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Luís XI, se tornara um Estado<br />
puramente monárquico, governo feliz quando um rei, tal como<br />
Luís XII, repara, pelo seu amor ao povo, todas as faltas que<br />
comete para com <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, mas o pior d<strong>os</strong> govern<strong>os</strong>, com<br />
um rei pusilânime ou mau. O estado político geral da Europa se<br />
tinha aperfeiçoado quanto ao facto <strong>de</strong> as guerras particulares d<strong>os</strong><br />
senhores feudais não ser<strong>em</strong> mais permitidas <strong>em</strong> parte alguma<br />
pelas leis (VOLTAIRE, 1958b, p. 139).<br />
Voltaire comenta nessa passag<strong>em</strong> a situação da Europa n<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> XV e<br />
XVI. Assim, como já vim<strong>os</strong> na discussão <strong>sobre</strong> a separação d<strong>os</strong> po<strong>de</strong>res,<br />
constata-se que a relação entre o papa e <strong>os</strong> reis estava marcada por certo<br />
equilíbrio, apesar d<strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> anteriores. Com isso, o autor aponta para o fato<br />
<strong>de</strong>, já naquele momento, existir o absolutismo, como se percebeu mais tar<strong>de</strong>,<br />
<strong>sobre</strong>tudo no século XVIII.<br />
Ao chamar a atenção para o processo <strong>de</strong> constituição do po<strong>de</strong>r d<strong>os</strong> reis,<br />
<strong>em</strong> plen<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> XV e XVI, Voltaire n<strong>os</strong> alerta para a necessida<strong>de</strong> da história,<br />
pois é ela que n<strong>os</strong> <strong>de</strong>monstra que a situação da socieda<strong>de</strong> francesa d<strong>os</strong><br />
setecent<strong>os</strong> foi uma construção da própria socieda<strong>de</strong>, para a qual contribuíram as<br />
diversas instituições. Esse processo não foi exclusivo da socieda<strong>de</strong> francesa. Um<br />
d<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> a <strong>de</strong>stacar na formação d<strong>os</strong> estad<strong>os</strong> é sua abrangência, ou seja,<br />
ampliam-se <strong>os</strong> interesses d<strong>os</strong> governantes a um espaço cada vez mais geral, ou<br />
seja, o domínio público.<br />
Isso exigirá d<strong>os</strong> governantes uma ampliação <strong>de</strong> suas funções e também a<br />
adoção <strong>de</strong> novas virtu<strong>de</strong>s, as quais passam a ser apregoadas como necessárias<br />
para <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>. Com essa preocupação Voltaire:<br />
Em seu Ensaio <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes, vai <strong>de</strong>stacar a ação d<strong>os</strong><br />
príncipes por mérito, que, mesmo s<strong>em</strong> cingir<strong>em</strong> coroa, já se<br />
m<strong>os</strong>travam muito dign<strong>os</strong> <strong>de</strong>la. Na barbárie <strong>em</strong> que se<br />
transformou a Europa, no contexto das invasões do século IX, o<br />
autor vai encontrar a figura <strong>de</strong> Eu<strong>de</strong>s, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, um<br />
príncipe que se elevou ao trono unicamente por seu próprio valor.<br />
Num t<strong>em</strong>po marcado pela violência e todo o cortejo <strong>de</strong> vilezas<br />
que caracterizam a Ida<strong>de</strong> Média, Voltaire irá realçar a corag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> Eu<strong>de</strong>s, o salvador <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> um reino. Voltaire<br />
também reconhece o mérito <strong>de</strong> reis bárbar<strong>os</strong> como Rolon e Eric.<br />
O primeiro, por ter fixado seu povo na Normandia, o que fez <strong>de</strong>le