ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Quidort <strong>de</strong>bateu com <strong>os</strong> curialistas, que <strong>de</strong>fendiam o po<strong>de</strong>r papal <strong>em</strong> questões<br />
t<strong>em</strong>porais. Apesar <strong>de</strong> pol<strong>em</strong>izar também com Tolomeu <strong>de</strong> Lucca e Tiago <strong>de</strong><br />
Viterbo, <strong>de</strong>tém-se mais <strong>em</strong> Egídio Romano, já que sua obra “Sobre o po<strong>de</strong>r<br />
eclesiástico” servira <strong>de</strong> fundamento para a bula papal “Unam Sanctam”.<br />
A disputa entre o papa e o rei, inclusive com a formação <strong>de</strong> dois grup<strong>os</strong>, <strong>os</strong><br />
favoráveis ao papa e <strong>os</strong> favoráveis ao rei, e que extrapola nesse momento o<br />
campo da fil<strong>os</strong>ofia e teologia para o campo do direito, sustenta a obra <strong>de</strong> João<br />
Quidort. Como ressalta De Boni (1989, pp. 14-15), “[...] a jurisprudência<br />
conhecera um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no século XIII, e agora, na luta entre<br />
Bonifácio VIII e Filipe, o Belo, <strong>os</strong> juristas encontram-se na linha <strong>de</strong> frente”.<br />
A discussão, segundo João Quidort, pauta-se <strong>em</strong> dois err<strong>os</strong>, motivo pelo<br />
qual ele dá à jurisprudência um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Esta visa encontrar o<br />
equilíbrio, o acerto entre as p<strong>os</strong>ições antagônicas e equivocadas.<br />
O erro d<strong>os</strong> Val<strong>de</strong>nses foi o <strong>de</strong> afirmar que a<strong>os</strong> sucessores d<strong>os</strong><br />
apóstol<strong>os</strong> – o papa e <strong>os</strong> prelad<strong>os</strong> – é vedado o domínio t<strong>em</strong>poral<br />
e não lhes é permitida a p<strong>os</strong>se <strong>de</strong> bens materiais. [...] O erro<br />
op<strong>os</strong>to foi o <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s que, ouvindo que Cristo, o rei, havia<br />
nascido, supôs que este seria um rei terreno. [...] <strong>de</strong>ste erro a<br />
opinião <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, que tanto se distanciam do erro d<strong>os</strong><br />
Val<strong>de</strong>nses a ponto <strong>de</strong> caír<strong>em</strong> <strong>de</strong> todo no op<strong>os</strong>to, afirmando que o<br />
senhor papa, como representante <strong>de</strong> Cristo na terra, p<strong>os</strong>sui o<br />
domínio b<strong>em</strong> como a jurisdição <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> bens t<strong>em</strong>porais d<strong>os</strong><br />
príncipes e barões (JOÃO QUIDORT, 1989, pp. 41-42).<br />
As disputas entre o papa e o rei estão pautadas nas duas teses exp<strong>os</strong>tas<br />
por Quidort como errôneas, que busca o meio termo entre elas. Não é p<strong>os</strong>sível<br />
afirmar, como <strong>os</strong> Val<strong>de</strong>nses, que ao papa e a<strong>os</strong> prelad<strong>os</strong> seja vedado o domínio<br />
t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> forma absoluta. N<strong>em</strong> tampouco, como quer<strong>em</strong> <strong>os</strong> curialistas, que ao<br />
papa e a<strong>os</strong> prelad<strong>os</strong> foi dado por Cristo todo o domínio e jurisdição. Para João<br />
Quidort não é p<strong>os</strong>sível afirmar verda<strong>de</strong>ira n<strong>em</strong> a tese d<strong>os</strong> que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o po<strong>de</strong>r<br />
papal e tampouco a d<strong>os</strong> que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o po<strong>de</strong>r real. Procurando resolver este<br />
conflito, que já está p<strong>os</strong>to, ele compõe a obra Sobre o po<strong>de</strong>r régio e papal. Ao<br />
buscar situar <strong>os</strong> dois po<strong>de</strong>res, ele se aproxima do pensamento <strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong><br />
Aquino, porém vai além, ao pressupor que <strong>os</strong> dois po<strong>de</strong>res, <strong>em</strong>bora tenham a<br />
mesma orig<strong>em</strong>, que é Deus, têm sua legitimida<strong>de</strong> e garantia no atendimento a<strong>os</strong><br />
homens.