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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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Para Voltaire, as leis francesas ainda parec<strong>em</strong> correspon<strong>de</strong>r a um estágio<br />

<strong>de</strong> barbárie, superior ao que se constatava na Antiguida<strong>de</strong> <strong>em</strong>bora a socieda<strong>de</strong><br />

do século XVIII <strong>de</strong>vesse ser superior ao que se constatava na Antiguida<strong>de</strong>. Isso<br />

só será percebido pel<strong>os</strong> homens da cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> se tiver<strong>em</strong> um olhar<br />

atento para a história, uma vez que somente por ela é que <strong>os</strong> homens po<strong>de</strong>rão<br />

perceber e enten<strong>de</strong>r como a socieda<strong>de</strong> e as instituições chegaram a esse estágio.<br />

Pela história po<strong>de</strong>rão perceber que as instituições são criações humanas e que a<br />

situação <strong>em</strong> que se encontram no século XVIII é resultante das escolhas d<strong>os</strong><br />

própri<strong>os</strong> homens ao longo d<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong>.<br />

Destacam<strong>os</strong> que a abordag<strong>em</strong> que Voltaire faz do Império romano t<strong>em</strong><br />

como preocupação não apenas m<strong>os</strong>trar seus err<strong>os</strong> ou acert<strong>os</strong>, mas que po<strong>de</strong>m<strong>os</strong><br />

apren<strong>de</strong>r com a sua história.<br />

Entre <strong>os</strong> antig<strong>os</strong> roman<strong>os</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Rômulo até <strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> <strong>em</strong> que<br />

<strong>os</strong> cristã<strong>os</strong> disputaram com <strong>os</strong> sacerdotes do Império, não<br />

encontreis um único hom<strong>em</strong> perseguido por suas opiniões.<br />

Cícero duvidou <strong>de</strong> tudo, Lucrécio negou tudo, e não lhes fizeram<br />

a menor censura. A licença foi inclusive tão longe que Plínio, o<br />

Naturalista, começou seu livro negando a Deus e dizendo que há<br />

só um: o sol. Cícero diz, ao falar d<strong>os</strong> infern<strong>os</strong>: ‘[..] não há sequer<br />

velho imbecil que acredite neles’. Diz Juvenal: ‘[...] n<strong>em</strong> as<br />

crianças acreditam’. Cantava-se no teatro <strong>de</strong> Roma: ‘[...] Não há<br />

nada após a morte, a própria morte é nada’ [Sêneca].<br />

Abomin<strong>em</strong><strong>os</strong> essas máximas e, quando muito perdo<strong>em</strong><strong>os</strong> um<br />

povo que <strong>os</strong> evangelh<strong>os</strong> não iluminam. Elas são falsas, são<br />

ímpias. Mas concluam<strong>os</strong> que <strong>os</strong> roman<strong>os</strong> eram tolerantes, já que<br />

elas não provocaram jamais o menor murmúrio (VOLTAIRE,<br />

2000b, p. 39).<br />

Importante perceber que Voltaire, ao se referir a<strong>os</strong> roman<strong>os</strong>, assim como a<br />

outr<strong>os</strong> pov<strong>os</strong>, não simplesmente <strong>os</strong> toma como mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong>. Mesmo que pareça<br />

irônico Voltaire se referir a<strong>os</strong> evangelh<strong>os</strong>, ele consi<strong>de</strong>ra, na realida<strong>de</strong>, que a<br />

socieda<strong>de</strong> francesa não é apenas uma continuação da romana, mas uma nova<br />

socieda<strong>de</strong> que se formou a partir <strong>de</strong> el<strong>em</strong>ent<strong>os</strong> roman<strong>os</strong>, bárbar<strong>os</strong> e, <strong>sobre</strong>tudo,<br />

do cristianismo. D<strong>em</strong>onstra, <strong>de</strong>sta forma, a historicida<strong>de</strong> da própria socieda<strong>de</strong><br />

francesa e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rm<strong>os</strong> com a história. Ela é que, por meio da<br />

m<strong>em</strong>ória da própria socieda<strong>de</strong>, oferece-n<strong>os</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Hoje só se pronuncia <strong>os</strong> nomes <strong>de</strong> <strong>os</strong>trogod<strong>os</strong>, visigod<strong>os</strong>, huno,<br />

franco, vândalo, hérulo, <strong>de</strong> todas essas hordas que <strong>de</strong>struíram o<br />

Império romano, com a repugnância e o horror que inspiram <strong>os</strong>

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