ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
tant<strong>os</strong> preceptores – quão útil é a história! (VOLTAIRE 1973b, p.<br />
213)<br />
A crítica <strong>de</strong> Voltaire à história cristã se dá pela própria dinâmica do fazer<br />
história d<strong>os</strong> pensadores cristã<strong>os</strong>. Nesse sentido, é preciso <strong>de</strong>stacar que Voltaire<br />
discute o fato <strong>de</strong>, até então, muit<strong>os</strong> historiadores consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> <strong>os</strong> relat<strong>os</strong> bíblic<strong>os</strong><br />
como relat<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>, s<strong>em</strong> sequer questionar<strong>em</strong> a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<strong>em</strong><br />
fábulas, n<strong>em</strong> o próprio gênero literário <strong>em</strong> que foram comp<strong>os</strong>t<strong>os</strong>. Segundo<br />
Voltaire, a história tinha uma função educativa, ensinar e estimular a socieda<strong>de</strong> a<br />
conhecer e viver seus <strong>de</strong>veres e direit<strong>os</strong>, <strong>de</strong>pois seu objetivo para com a<br />
socieda<strong>de</strong> passou a ser outro. Diz ele: “[...] qual é a história útil? Aquela que n<strong>os</strong><br />
m<strong>os</strong>tra n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> <strong>de</strong>veres e direit<strong>os</strong> s<strong>em</strong> ter a aparência <strong>de</strong> n<strong>os</strong> querer ensiná-l<strong>os</strong>”<br />
(VOLTAIRE, 1973b, p. 213).<br />
Para Voltaire, o foco da história <strong>de</strong>ve mudar, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser imperativa, ou<br />
seja, <strong>de</strong> dizer o que se <strong>de</strong>ve fazer, e se tornar reflexiva, ou seja, apresentar <strong>os</strong><br />
fat<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ixando a<strong>os</strong> homens o arbítrio <strong>de</strong> escolher<strong>em</strong> após refletir<strong>em</strong>, pois a<br />
história apresenta o que já aconteceu. Com base na reflexão <strong>sobre</strong> o passado é<br />
que <strong>os</strong> homens terão condições <strong>de</strong> realizar escolhas que p<strong>os</strong>sibilit<strong>em</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>. Isso aparece no seguinte conselho <strong>de</strong> Voltaire<br />
“[...] po<strong>de</strong>s ter certeza <strong>de</strong> que o veredicto será contra ti todas as vezes que<br />
<strong>de</strong>cidires s<strong>em</strong> prova, mesmo que tiveres razão: pois não é teu juízo que pe<strong>de</strong>m,<br />
mas o relato <strong>de</strong> um processo que o público <strong>de</strong>ve julgar” (VOLTAIRE, 2006a, p.<br />
15).<br />
Na obra História <strong>de</strong> Carl<strong>os</strong> XII, ele esclarece que:<br />
Os príncipes com mais direito à imortalida<strong>de</strong> são aqueles que<br />
fizeram algum b<strong>em</strong> a<strong>os</strong> homens. [...] Tal é a miserável fraqueza<br />
d<strong>os</strong> homens, s<strong>em</strong>pre pront<strong>os</strong> a olhar com admiração <strong>os</strong> que<br />
fizeram mal <strong>de</strong> maneira brilhante: falarão com mais freqüência e<br />
mais prazer do <strong>de</strong>struidor <strong>de</strong> um império do que daquele que o<br />
fundou. [...] Estam<strong>os</strong> persuadid<strong>os</strong> <strong>de</strong> que a história <strong>de</strong> um<br />
príncipe não é tudo que ele fez, mas o que fez digno <strong>de</strong> ser<br />
transmitido à p<strong>os</strong>terida<strong>de</strong>. [...] Se algum príncipe ou algum<br />
ministro encontrar nesta obra verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sagradáveis, l<strong>em</strong>bre-se<br />
<strong>de</strong> que, sendo homens públic<strong>os</strong>, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conta <strong>de</strong> suas acções ao<br />
público; que a esse preço compram sua gran<strong>de</strong>za; que a história<br />
é um test<strong>em</strong>unho e não uma lisonja; que o único meio <strong>de</strong> obrigar<br />
<strong>os</strong> homens a dizer<strong>em</strong> b<strong>em</strong> <strong>de</strong> nós é praticarm<strong>os</strong> boas acções<br />
(VOLTAIRE, 1958c, pp. 3,6,7).