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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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socieda<strong>de</strong>, o que <strong>em</strong> certa medida fora também a discussão d<strong>os</strong> autores do<br />

século XIV, quando se propunha a separação entre <strong>os</strong> po<strong>de</strong>res laico e clerical.<br />

Nesse contexto, segundo a luta d<strong>os</strong> iluministas com as instituições Igreja e<br />

Estado, o Estado não mais correspondia às exigências relacionadas ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das cida<strong>de</strong>s, do comércio e da indústria e à ascensão da<br />

burguesia. Isso por um lado; por outro, a Igreja, <strong>em</strong> coerência com a justificativa<br />

<strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r real era um po<strong>de</strong>r divino, tornou-se um sustentáculo do Estado.<br />

Voltaire assim explica a forte presença da Igreja e sua intervenção no<br />

Estado, <strong>em</strong> pleno século XVIII:<br />

[...] se tant<strong>os</strong> eclesiástic<strong>os</strong> regeram Estad<strong>os</strong> <strong>de</strong> estrutura militar,<br />

não sòmente porque <strong>os</strong> reis se fiass<strong>em</strong> mais fàcilmente num<br />

prelado, que não receavam, do que num general que t<strong>em</strong>iam; era<br />

ainda porque <strong>os</strong> homens da Igreja, s<strong>em</strong>pre mais instruíd<strong>os</strong>,<br />

m<strong>os</strong>travam-se mais apt<strong>os</strong> para <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> do que <strong>os</strong><br />

generais e <strong>os</strong> cortesã<strong>os</strong> (VOLTAIRE, 1958b, p. 141).<br />

No século XVIII, Igreja e Estado apareciam como instituições aliadas, que<br />

chegavam a se confundir na função <strong>de</strong> governo, mas não é isso o que se observa<br />

no século XIII e XIV, quando principia a <strong>de</strong>sconstrução do mundo feudal e a<br />

construção da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

No século XIII, a discussão acerca da separação d<strong>os</strong> po<strong>de</strong>res t<strong>em</strong>, como<br />

um d<strong>os</strong> seus gran<strong>de</strong>s teóric<strong>os</strong>, Tomás <strong>de</strong> Aquino (1227-1274), para qu<strong>em</strong> a Igreja<br />

<strong>de</strong>via se ocupar apenas das questões espirituais e <strong>de</strong>ixar as questões materiais<br />

para o Estado. Segundo ele, não era mais p<strong>os</strong>sível a Igreja exercer o papel <strong>de</strong><br />

governo como outrora, <strong>de</strong>vido às mudanças que a socieda<strong>de</strong> enfrentava e,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, <strong>em</strong> face da importância <strong>de</strong> outras instituições, como a realeza e as<br />

universida<strong>de</strong>s. 31<br />

31 “As formulações <strong>de</strong> Santo Tomás <strong>sobre</strong> o governo inci<strong>de</strong>m precisamente <strong>sobre</strong> esse <strong>de</strong>bate. Se<br />

não encontram<strong>os</strong> <strong>em</strong> sua p<strong>os</strong>ição nada radical, contudo, a essência <strong>de</strong> sua tese já é, <strong>em</strong> si,<br />

transformadora, pois textualmente, ele afirma a necessida<strong>de</strong> da separação entre <strong>os</strong> dois po<strong>de</strong>res.<br />

Ao fazer essa afirmação Santo Tomás coloca na or<strong>de</strong>m do dia a necessida<strong>de</strong> da mudança. Ele<br />

assume que a Igreja já não po<strong>de</strong>, sozinha, cuidar das coisas terrenas e celestes. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente,<br />

isso não significa que Tomás <strong>de</strong> Aquino estivesse propondo a cisão entre as ‘duas condições<br />

humanas’: a laica e a eclesiástica. Ao contrário, do seu ponto <strong>de</strong> vista, elas precisam continuar<br />

unidas, como o corpo e a alma precisam estar imbuíd<strong>os</strong> do princípio norteador <strong>de</strong> todas as coisas,<br />

ou seja, Deus. Contudo, as coisas terrenas precisam ser cuidadas por legislador laico e as coisas<br />

divinas por um governo eclesiástico. Para ele, <strong>os</strong> dois po<strong>de</strong>res são fundamentais a<strong>os</strong> homens<br />

porque um cuida da matéria e o outro cuida do espírito e amb<strong>os</strong> são governad<strong>os</strong> pela força<br />

supr<strong>em</strong>a” (OLIVEIRA, 2005, p. 25).

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