ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>de</strong>monstra que as pretensões papais são injustas e infundadas. Na terceira parte,<br />
retoma seus objetiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> forma sucinta e conclusiva.<br />
Em sua argumentação a favor da paz, Marsílio procura esclarecer quando<br />
a mesma se torna p<strong>os</strong>sível: “[...] a tranqüilida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> na boa organização da<br />
cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com a qual cada uma <strong>de</strong> suas partes <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha totalmente<br />
as tarefas que lhes são peculiares, conforme a razão e o motivo a<strong>os</strong> quais foram<br />
instituídas” (MARSÍLIO DE PÁDUA, 1997, p. 77).<br />
Fica claro, por esta assertiva, que Marsílio atribui a causa das guerras ao<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio entre <strong>os</strong> po<strong>de</strong>res laico e religi<strong>os</strong>o e à pretensão da plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r por parte do Papado. 43<br />
Nesse caso, as guerras teriam orig<strong>em</strong> no <strong>de</strong>srespeito do papado quanto à<br />
auctoritas do imperador, d<strong>os</strong> governantes laic<strong>os</strong>. Segundo Skinner (2006, pp. 42-<br />
43), Marsílio utiliza-se <strong>de</strong> duas vias para combater a pretensão <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r.<br />
Primeiro, a Igreja <strong>de</strong>veria se ocupar <strong>de</strong> suas funções e afazeres s<strong>em</strong><br />
buscar prerrogativas que lhe outorgass<strong>em</strong> a plenitu<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r. Como já alertara,<br />
a paz é resultante do <strong>em</strong>penho <strong>de</strong> cada um naquilo que <strong>de</strong>ve fazer. Segundo, o<br />
primado das questões relativas ao governo das cida<strong>de</strong>s é exclusivida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r<br />
laico, no qual a Igreja n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve e n<strong>em</strong> t<strong>em</strong> qualquer direito para intervir. Marsílio<br />
esclarece que, quando isso ocorre, a socieda<strong>de</strong> enfrenta conflit<strong>os</strong> e sérias crises.<br />
Além <strong>de</strong> sugerir que a autorida<strong>de</strong> da Igreja é o concílio Geral, cuja<br />
convocação não é exclusivida<strong>de</strong> do papa, Marsílio atribui o po<strong>de</strong>r ao “fiel<br />
legislador humano”, <strong>de</strong>monstrando o que afirma Oliveira (2005, p. 45): a Igreja já<br />
não t<strong>em</strong> mais tanto po<strong>de</strong>r <strong>sobre</strong> a socieda<strong>de</strong>.<br />
Para sua argumentação, na primeira parte <strong>de</strong> sua obra, Marsílio utilizou-se<br />
<strong>de</strong> argument<strong>os</strong> fil<strong>os</strong>ófic<strong>os</strong>, <strong>sobre</strong>tudo <strong>de</strong> Aristóteles.<br />
Em Marsílio [...] o conceito <strong>de</strong> pax, repensado diretamente a partir<br />
do princípio aristotélico, baseia-se <strong>em</strong> concepções puramente<br />
naturais, segundo uma idéia <strong>de</strong> paz que correspon<strong>de</strong> ao estado<br />
terreno perfeito, tão-somente à ausência <strong>de</strong> conflito, p<strong>os</strong>sível <strong>de</strong><br />
ser realizada apenas no interior da socieda<strong>de</strong> civil (a cida<strong>de</strong> –<br />
civitas). No Defensor Pacis, Marsílio discorda <strong>de</strong> maneira límpida<br />
43 Potestatis é a explicação da orig<strong>em</strong> religi<strong>os</strong>a do po<strong>de</strong>r. Em op<strong>os</strong>ição a potestatis t<strong>em</strong><strong>os</strong> a<br />
auctoritas que é o entendimento do po<strong>de</strong>r como o que se dá pelo consenso e aceitação do grupo.<br />
T<strong>em</strong><strong>os</strong> a auctoritas natural no caso do pai e as que se fundam no consenso e pelas leis.