16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Apenas o vulto do capanga <strong>de</strong>sapareceu na sombra da gruta, ouviuse<br />

farfalhar <strong>de</strong> leve o mato, que bordava as abas da penedia; e<br />

<strong>de</strong>ntre a folhagem surdiram os canos <strong>de</strong> espingardas, cuja coronha<br />

parecia colada aos troncos mais grossos das árvores.<br />

Houve um instante <strong>de</strong> silêncio.<br />

As armas, prontas a <strong>de</strong>sfecharem, permaneceram imóveis, talvez à<br />

espera <strong>de</strong> um sinal. Nenhum rosto ou figura humana assomou na<br />

cortina da floresta; nem mesmo se lobrigava qualquer vulto por entre<br />

a espessura.<br />

Os assaltantes se tinham aproximado sorrateiramente, emboscados<br />

atrás do pau, saltando <strong>de</strong> um toco a outro, com receio da bala<br />

certeira, que o bacamarte do capanga podia mandar-lhes por entre as<br />

frestas da gruta.<br />

Chegados à borda do mato, ficaram à espreita, com os olhos fitos na<br />

solapa, que servia <strong>de</strong> entrada à caverna, e as espingardas apontadas<br />

para aquele alvo aguardando um resultado, que não ousavam<br />

provocar.<br />

Tão preocupados estavam <strong>de</strong> sua própria segurança, que não<br />

repararam em um aci<strong>de</strong>nte importante. A boca da furna, pouco antes<br />

<strong>de</strong> uma escuridão profunda, <strong>de</strong>svanecera um tanto; indício <strong>de</strong> que,<br />

ou se abrira na caverna alguma fenda por on<strong>de</strong> penetrava a luz, ou<br />

se fechara a entrada com alguma lasca <strong>de</strong> pedra, na qual se refrangia<br />

a clarida<strong>de</strong> exterior.<br />

Passado longo trato nessa expectativa, soou enfim uma voz a gritar<br />

por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> grosso tronco <strong>de</strong> árvore:<br />

- Entrega-te, bugre do inferno, senão morres!<br />

Não teve resposta essa intimação; mas a voz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> curta pausa<br />

continuou a bradar:<br />

- Chegou o dia!... Vais sentir o gonzo <strong>de</strong>ste braço, e saber para<br />

quanto presta o Suçuarana! Agora é que se quer ver a fama! Salta cá<br />

para fora, caborteiro, se és homem!...<br />

Calou-se um instante o Gonçalo para escutar, e não ouvindo rumor<br />

na caverna, prosseguiu:<br />

- Estás com medo, hein!... A valentia que arrotavas <strong>de</strong> papo cheio,<br />

fez víspora, não é? A coisa cheira a chamusco; e vais tratando <strong>de</strong><br />

120

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!