You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
- Escon<strong>de</strong>u-se conforme o costume para fazer tutu! respon<strong>de</strong>u<br />
Miguel.<br />
- Berta! chamou Linda.<br />
- Aqui não está. Já corri tudo.<br />
- Dê lembranças a ela, Miguel; não posso esperar; já é tar<strong>de</strong>.<br />
- Aí adiante a encontra <strong>de</strong> emboscada no caminho, Linda.<br />
- Se eu a pilho! disse o Afonso apertando a mão <strong>de</strong> Miguel.<br />
Os dois irmãos atravessaram a capoeira, espreitando por entre<br />
as folhas, mas não viram sombra <strong>de</strong> Berta.<br />
Nesse momento soou <strong>de</strong> novo o mesmo estranho clamor que<br />
antes se ouvira; mas <strong>de</strong>sta vez gania a voz com tal ímpeto e frenesi<br />
que estrangulava-se.<br />
- <strong>Til</strong>! <strong>Til</strong>! <strong>Til</strong>...<br />
Na roça estavam os pretos no eito, estendidos em duas filas, e<br />
no manejo da enxada batiam a cadência <strong>de</strong> um canto monótono, com<br />
que amenizavam o trabalho:<br />
Do pique daquele morro<br />
Vem <strong>de</strong>scendo um cavaleiro<br />
Oh! Gentes, pois não verão<br />
Este sapo num sen<strong>de</strong>iro?<br />
Adubavam o mote com uma <strong>de</strong>scomposta risada e logo após<br />
soltavam um riso gutural:<br />
- Pxu! Pxu!<br />
Tem os pretos o costume <strong>de</strong> entressacharem nas toadas<br />
habituais, seus improvisos, que muitas vezes encerram epigramas e<br />
alusões. Bem <strong>de</strong>sconfiavam, pois, o feitor <strong>de</strong> que a tal cantiga bolia<br />
com ele, e o sapo não era outro senão um certo sujeito bojudo e<br />
roliço, <strong>de</strong> seu íntimo conhecimento; mas fingia-se <strong>de</strong>spercebido da<br />
coisa.<br />
Quando passaram os dois irmãos, a um sinal da cabeça <strong>de</strong> eito,<br />
os pretos fizeram um floreio <strong>de</strong> enxadas, suspen<strong>de</strong>ndo-as ao ar com<br />
a mão esquerda, e com a direita pediram a benção.<br />
XIV<br />
A vespa<br />
On<strong>de</strong> sumira-se Berta, que não a <strong>de</strong>scobria Miguel já cansado e<br />
aborrecido <strong>de</strong> a procurar por quanta moita e sebe ali havia?<br />
Ouvindo Linda falar dos sustos <strong>de</strong> D. Ermelinda a propósito da<br />
viagem <strong>de</strong> Luís Galvão, sofrera a menina um choque violento, que<br />
redobrou quando foi proferido o nome <strong>de</strong> Jão Fera, o terrível<br />
capanga, a quem poucos momentos antes encontrara, e do qual se<br />
contavam coisas inauditas.<br />
No olhar que relanceou-lhe Miguel, avivaram-se as palavras que<br />
recentemente haviam escapado ao moço, quando falava das<br />
38