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- Meu amigo, é preciso reconhecer a sua... a nossa filha!...<br />
Arrasaram-se <strong>de</strong> lágrimas os olhos <strong>de</strong> Luís, que apertou<br />
estremecidamente a mulher ao coração, erguendo os olhos ao céu.<br />
- Que santa me <strong>de</strong>ste tu, meu Deus, a mim que não mereço!<br />
Logo <strong>de</strong>pois do almoço, D. Ermelinda foi à casa <strong>de</strong> nhá Tudinha e<br />
pediu-lhe que preparasse Berta para a revelação que o pai ia fazerlhe<br />
<strong>de</strong> seu nascimento. Com o tato <strong>de</strong> mulher e mãe quis a boa<br />
senhora poupar à enjeitada a dor que havia <strong>de</strong> curtir se viesse a<br />
conhecer a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> Besita.<br />
Imaginou pois um meio <strong>de</strong>licado <strong>de</strong> revelar a lúgubre história. Besita<br />
casara com Luís às ocultas, por causa da oposição do velho Galvão.<br />
Morrendo a moça, e casando Luís pela segunda vez, acanhou-se <strong>de</strong><br />
confessar a D. Ermelinda que era viúvo e tinha uma filha. Por esse<br />
motivo fora Berta criada como uma estranha em casa alheia.<br />
Eis o que i<strong>de</strong>ara D. Ermelinda, e o que nhá Tudinha, contente pela<br />
ventura da menina, mas <strong>de</strong>sconsolada <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r aquela filha, repetiu<br />
nessa mesma tar<strong>de</strong>. As perguntas e instâncias que suce<strong>de</strong>ram à<br />
surpresa <strong>de</strong> Berta, apenas arrancaram da viúva a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que<br />
Besita morava outrora na tapera com Zana, sua escrava.<br />
Uma voz íntima dizia a Berta que muita coisa lhe ocultavam da<br />
história <strong>de</strong> sua mãe; e era este segredo que ela buscava escrutar no<br />
cérebro enfermo da negra, on<strong>de</strong> sabia, que estava sepultado.<br />
Des<strong>de</strong> muito tempo tinha ela o pressentimento, <strong>de</strong> que o terrível<br />
drama representado pela estranha mímica da louca, se prendia à<br />
existência <strong>de</strong>la, Berta, por um fio misterioso. Agora tinha a certeza.<br />
Cheia <strong>de</strong> ânsia, em face da negra esfinge que emu<strong>de</strong>cia, lançou a<br />
menina em trono um olhar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, e avistou Jão Fera a alguns<br />
passos.<br />
Teve um assomo <strong>de</strong> alegria e correu para o capanga; mas recuou<br />
horrorizada, e balbuciou apontando para as mãos suplicantes que lhe<br />
estendia o Bugre:<br />
- Não me toques. Tuas mãos têm sangue!...<br />
Caiu <strong>de</strong> joelhos o facínora, e assim, arrastando-se até os pés <strong>de</strong><br />
Berta, murmurava:<br />
- Por pieda<strong>de</strong>, Nhazinha!... Nunca mais!...<br />
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