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Til – José de Alencar

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- Meu amigo, é preciso reconhecer a sua... a nossa filha!...<br />

Arrasaram-se <strong>de</strong> lágrimas os olhos <strong>de</strong> Luís, que apertou<br />

estremecidamente a mulher ao coração, erguendo os olhos ao céu.<br />

- Que santa me <strong>de</strong>ste tu, meu Deus, a mim que não mereço!<br />

Logo <strong>de</strong>pois do almoço, D. Ermelinda foi à casa <strong>de</strong> nhá Tudinha e<br />

pediu-lhe que preparasse Berta para a revelação que o pai ia fazerlhe<br />

<strong>de</strong> seu nascimento. Com o tato <strong>de</strong> mulher e mãe quis a boa<br />

senhora poupar à enjeitada a dor que havia <strong>de</strong> curtir se viesse a<br />

conhecer a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> Besita.<br />

Imaginou pois um meio <strong>de</strong>licado <strong>de</strong> revelar a lúgubre história. Besita<br />

casara com Luís às ocultas, por causa da oposição do velho Galvão.<br />

Morrendo a moça, e casando Luís pela segunda vez, acanhou-se <strong>de</strong><br />

confessar a D. Ermelinda que era viúvo e tinha uma filha. Por esse<br />

motivo fora Berta criada como uma estranha em casa alheia.<br />

Eis o que i<strong>de</strong>ara D. Ermelinda, e o que nhá Tudinha, contente pela<br />

ventura da menina, mas <strong>de</strong>sconsolada <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r aquela filha, repetiu<br />

nessa mesma tar<strong>de</strong>. As perguntas e instâncias que suce<strong>de</strong>ram à<br />

surpresa <strong>de</strong> Berta, apenas arrancaram da viúva a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que<br />

Besita morava outrora na tapera com Zana, sua escrava.<br />

Uma voz íntima dizia a Berta que muita coisa lhe ocultavam da<br />

história <strong>de</strong> sua mãe; e era este segredo que ela buscava escrutar no<br />

cérebro enfermo da negra, on<strong>de</strong> sabia, que estava sepultado.<br />

Des<strong>de</strong> muito tempo tinha ela o pressentimento, <strong>de</strong> que o terrível<br />

drama representado pela estranha mímica da louca, se prendia à<br />

existência <strong>de</strong>la, Berta, por um fio misterioso. Agora tinha a certeza.<br />

Cheia <strong>de</strong> ânsia, em face da negra esfinge que emu<strong>de</strong>cia, lançou a<br />

menina em trono um olhar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, e avistou Jão Fera a alguns<br />

passos.<br />

Teve um assomo <strong>de</strong> alegria e correu para o capanga; mas recuou<br />

horrorizada, e balbuciou apontando para as mãos suplicantes que lhe<br />

estendia o Bugre:<br />

- Não me toques. Tuas mãos têm sangue!...<br />

Caiu <strong>de</strong> joelhos o facínora, e assim, arrastando-se até os pés <strong>de</strong><br />

Berta, murmurava:<br />

- Por pieda<strong>de</strong>, Nhazinha!... Nunca mais!...<br />

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