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Velava o olhar e a voz da senhora um ressumbro <strong>de</strong> triste<br />
severida<strong>de</strong>, que anuviou o coração <strong>de</strong> Linda.<br />
Nesse instante um foguete que rasou a terra, listrando na escuridão<br />
da noite uma faixa <strong>de</strong> luz, <strong>de</strong>stacou ao longe na fímbria da mata um<br />
vulto <strong>de</strong> homem.<br />
Berta reconheceu Jão Fera.<br />
XX<br />
O samba<br />
À direita do terreiro, adumbra-se na escuridão um maciço <strong>de</strong><br />
construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos<br />
vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento.<br />
Do centro <strong>de</strong>ssa mole negra surge um longo penacho <strong>de</strong> fumaça, cujo<br />
cabo se tinge <strong>de</strong> escarlate com as línguas da chama quando ala-se.<br />
Escapa-se também um borborinho formado não só pelos ressolhos da<br />
labareda e crepitações da lenha, como por vozeio e vivas d’envolta<br />
com os retumbos soturnos do jongo.<br />
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um gran<strong>de</strong><br />
pátio cercado <strong>de</strong> senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta,<br />
e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas.<br />
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu <strong>de</strong><br />
brasido e cinzas, danças os pretos o samba com um frenesi que toca<br />
o <strong>de</strong>lírio. Não se <strong>de</strong>screve, nem se imagina esse <strong>de</strong>sesperado<br />
saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, saco<strong>de</strong>, gira,<br />
bamboleia, como se quisesse <strong>de</strong>sgrudar-se.<br />
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães,<br />
ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram<br />
cambalhotas e pincham à guisa <strong>de</strong> sapos em roda do terreiro. Um<br />
<strong>de</strong>sses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não<br />
sabendo mais como <strong>de</strong>sconjuntar-se, atirou consigo ao chão e<br />
começou <strong>de</strong> rabanar como um peixe em seco.<br />
No furor causado pelo remexido infernal, alguns negros arremetiam<br />
contra a fogueira e sapateiam em cima do borralho ar<strong>de</strong>nte, a<br />
escorrer do braseiro.<br />
Entre estes o primeiro e o mais endiabrado, foi Monjolo; tomando por<br />
sua parceira <strong>de</strong> batuque a própria fogueira, atirou-lhe tais<br />
embigadas, que a pilha <strong>de</strong> lenha <strong>de</strong>rreou e foi esboroando-se.<br />
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