16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Passara Berta e dirigia-se à porta da casa, quando a negra esten<strong>de</strong>u<br />

os braços hirtos para diante como se quisesse arremessar <strong>de</strong> si uma<br />

visão medonha, e caiu à estrebuchar em contorções dolorosas,<br />

arrancando guinchos aflitivos do peito ofegante.<br />

Na orla do mato, à esquerda da tapera, assomara <strong>de</strong> repente a figura<br />

do Ribeiro, que aos olhos <strong>de</strong> Zana surgira como um espectro e a<br />

fulminara <strong>de</strong> terror.<br />

Aos gritos da preta, Berta, arrancada ao seu recolho, correu<br />

assustada, sem atinar com a causa <strong>de</strong> semelhante acesso. Vendo-a,<br />

Zana que não se apercebera <strong>de</strong> sua chegada, atirou-se à ela, e<br />

cerrando-a ao peito com os braços mirrados, precipitou-se para casa<br />

em um ímpeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero.<br />

Assim arrebatada <strong>de</strong> chofre, não <strong>de</strong>scobriu a menina o vulto do<br />

Ribeiro, nem ouviu o riso <strong>de</strong> escárneo que rincharam os lábios do<br />

assassino por ver o terror da negra e seu afã em levar a menina do<br />

terreiro e escon<strong>de</strong>-la na casa.<br />

Tinha ele segura a presa, e por isso não açodava-se, querendo gozar<br />

por mais tempo a <strong>de</strong>lícia <strong>de</strong>ssa vingança, que julgava já extinta, e<br />

renascia <strong>de</strong> novo, como o broto <strong>de</strong> uma raiz morta.<br />

Açulado por um ódio implacável, lembrara-se dias antes <strong>de</strong> rever as<br />

ruínas da casa on<strong>de</strong> imolara a vítima <strong>de</strong> seu rancor, e cevar-se nas<br />

recordações <strong>de</strong> sua covar<strong>de</strong> atrocida<strong>de</strong>.<br />

Nessa ocasião, viu Berta, pela primeira vez, e logo entrou-o a<br />

suspeita <strong>de</strong> ser ela a filha <strong>de</strong> Besita, livre da morte pela súbita<br />

ameaça <strong>de</strong> um homem que ele não conhecera, mas supunha capanga<br />

<strong>de</strong> Luís Galvão.<br />

Des<strong>de</strong> aí começou <strong>de</strong> tirar indagações e obteve a certeza que<br />

<strong>de</strong>sejava. Seria pois esse o remate da vingança que há vinte anos<br />

principiara em Besita e <strong>de</strong>via acabar na filha, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver<br />

exterminado o pai.<br />

Furioso com o malogro do incêndio, porém aterrado com a sanha <strong>de</strong><br />

Jão Fera, a quem só escapara pela corajosa intervenção <strong>de</strong> Miguel, o<br />

miserável tratou <strong>de</strong> fugir.<br />

Ao passar por Campinas, soube que o Bugre fora preso na véspera<br />

por gente do Aguiar, e então animou-se a voltar a Santa Bárbara.<br />

Seu primeiro pensamento foi Berta. Lembrando-se que ia matar a<br />

pobre menina, sentia um prazer bárbaro. Parecia-lhe que Besita<br />

162

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!