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As confidências do irmão; as longas e constantes conversas a<br />
propósito do mesmo tema, sempre novo; os episódios singelos do<br />
idílio, arrufos ou encantadores segredos; essas asas fagueiras do<br />
amor roçavam a todo o instante o coração da moça e <strong>de</strong>ixavam-no<br />
impregnado <strong>de</strong> ternura afetuosa. Entretanto Miguel não se apercebia<br />
disso. Acreditava sim, que Linda o tinha em estima por causa <strong>de</strong><br />
Berta, e dispensava com ele o trato ameno e gentil, inspirado pela<br />
bonda<strong>de</strong> d’alma e fina educação.<br />
Assim, voltava ele à menina um respeitoso afeto, ungido pela<br />
gratidão que nele acendia as maneiras singelas e benévolas da moça;<br />
e também repassado da serena admiração <strong>de</strong> artista que sentia ao<br />
contemplar-lhe a peregrina beleza. Mas não lhe pulsava o coração<br />
com os ímpetos da paixão; nem a imagem graciosa <strong>de</strong> Linda flutuava<br />
nas cismas <strong>de</strong> sua fantasia.<br />
A presença da moça produzia-lhe na alma certo refrangimento,<br />
embora <strong>de</strong> grata <strong>de</strong>ferência; era como a palma do jeribá que fecha<br />
com os relentos da noite, e somente se engrinalda e brilha aos raios<br />
do sol.<br />
Para Miguel os momentos <strong>de</strong> expansão e doce contentamento<br />
não eram tanto esses passados aí no Tanquinho, como os outros mais<br />
festivos e mais lembrados em que sós, Inhá e ele, atravessavam a<br />
várzea na ida e na volta.<br />
De Berta, que direi? Com todos brincava; a todos queria bem, e<br />
sabia repartir-se <strong>de</strong> modo que dava a cada um seu quinhão <strong>de</strong><br />
agrado. Em roda ferviam os ciúmes <strong>de</strong> muitos que a ansiavam só<br />
para si, e penavam-se <strong>de</strong> vê-la <strong>de</strong>sejada e querida <strong>de</strong> tantos. Mas<br />
como um sorriso ela trocava tais zelos em extremos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, e<br />
o pleito já não era <strong>de</strong> quem mais recebesse carinho, e sim <strong>de</strong> quem<br />
mais daria em sacrifício.<br />
O gracioso e ingênuo sorriso <strong>de</strong> seus lábios, era o mesmo,<br />
<strong>de</strong>sfolhando beijocas na face <strong>de</strong> Linda, como zombando <strong>de</strong> Afonso ou<br />
ralhando com Miguel. Não fora o recato da educação, que ela seria<br />
muito capaz <strong>de</strong> fechar os olhos e à sorte lançar o beijo, como um<br />
pombinho, para qual dos três mais ligeiros o apanhasse.<br />
Se D. Ermelinda soubesse das freqüentes entrevistas no<br />
Tanquinho e suspeitasse dos tácitos emprazamentos que se davam os<br />
camaradas, por certo já teriam eles cessado; pois não escaparia à<br />
inteligente senhora o perigo <strong>de</strong> expor o tenro coração <strong>de</strong> sua filha a<br />
uma paixão, bem possível senão provável <strong>de</strong> gerar-se <strong>de</strong>ssa íntima<br />
convivência, que não perturbavam outras diversões próprias para<br />
ocupar o espírito <strong>de</strong> uma menina.<br />
Na casa das Palmas, porém, ignorava-se o habitual encontro;<br />
não que o negassem Linda ou Afonso, ambos incapazes <strong>de</strong> uma<br />
mentira. Calavam-se; eis todo seu pecado. De volta do passeio, em<br />
família, falavam várias coisas que tinham feito ou observado; mas<br />
não tocavam em Berta e Miguel, ou faziam-no <strong>de</strong> longe.<br />
Em Linda era pudor: quando o nome <strong>de</strong> Miguel lhe pruria o<br />
lábio, ainda não o tinha pronunciado, que sentia ar<strong>de</strong>rem-lhe as<br />
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