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Til – José de Alencar

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faces; e por isso o murmurava baixinho <strong>de</strong>ntro do coração. Daí<br />

provinha que vendo Afonso o vexame da irmã, por sua parte sofreava<br />

nesse particular o seu gênio zombeteiro, e não tugia sobre as<br />

entrevistas no Tanquinho.<br />

Quando D. Ermelinda e Galvão tomavam parte no passeio dos<br />

filhos, estes por um natural acanhamento não dirigiam a excursão<br />

para o sítio favorito; no que os ajudava o fazen<strong>de</strong>iro, mais solícito em<br />

mostrar à mulher a medra viçosa <strong>de</strong> sua lavoura, que lhe estava<br />

prometendo abundantes messes.<br />

Caso alguma vez tomassem para aquele lado, Berta e Miguel<br />

pressentindo que os donos da fazenda haviam <strong>de</strong> reparar se os<br />

encontrassem ali, e avisados <strong>de</strong> longe pelas vozes, que repercutiam<br />

com sonorida<strong>de</strong> que lhe davam as abóbadas <strong>de</strong> verdura e os<br />

aci<strong>de</strong>ntes do terreno, retiravam-se antes que chegassem.<br />

Eis como ignorava D. Ermelinda os idílios, que estavam<br />

compondo seus filhos, naquele sítio pitoresco, on<strong>de</strong> bebia-se o amor<br />

como um doce efúlvio da natureza. Tudo ali penetrava o coração <strong>de</strong><br />

emoções <strong>de</strong>liciosas. Pelo aveludado daquela relva cintilante<br />

espreguiçava-se a imaginação, a sonhar o dossel <strong>de</strong> um divã. Os<br />

sussurros da brisa nos palmares segredavam os ruge-ruges das<br />

sedas; e o borborinho do arroio imitava o trilo <strong>de</strong> um riso fresco e<br />

argentino.<br />

Quem estivesse nesse lugar a sós cuidadira que aproximava-se<br />

uma virgem mimosa, <strong>de</strong> fronte serena, olhar inspirado e fagueiro<br />

sorriso, perfumado <strong>de</strong> suave fragrância. Quem ali fosse com uma<br />

gentil companheira, acreditaria por certo que ela se transfundira<br />

nesse sítio nemoroso, como em um grêmio do amor; e nas auras<br />

embalsamadas sentira-lhe o mago sorriso a bafejar-lhe as faces; no<br />

lago dormente seus olhos límpidos a refletirem-lhe o céu <strong>de</strong> sua<br />

alma; nas hastes das palmeiras, seu talhe mil vezes esboçado com a<br />

mesma inata elegância; nas laçarias e festões <strong>de</strong> trepa<strong>de</strong>iras floridas,<br />

os folhos do amplo vestido; e na pelúcia da grama cambiante às<br />

<strong>de</strong>pressões do terreno, a voluptuosa flexão das formas <strong>de</strong>buxadas<br />

pelo corpinho <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> cetim. Como era possível não amara naquela<br />

mansão, on<strong>de</strong> tudo cantava, sorria, palpitava e respirava amor?<br />

A quem era dado abjurar nesse templo nupcial, on<strong>de</strong> celebravase<br />

o consórcio entre o vigor e a graça, o perfume e a harmonia, o<br />

majestoso e o esplêndido?<br />

Himeneu eterno do vento com a floresta, do rio com a campina,<br />

do orvalho com a flor, do sol com a sombra, do céu com a terra.<br />

XIII<br />

Susto<br />

Na primeira surpresa do grito inesperado, tiveram os<br />

companheiros <strong>de</strong> passeio um ligeiro sobressalto; mas rápido se<br />

<strong>de</strong>svaneceu.<br />

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