You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
FIM DO PRIMEIRO VOLUME<br />
Segundo Volume<br />
I<br />
O bugrezinho<br />
Em 1826, a mais bonita moça que havia nas vizinhanças <strong>de</strong><br />
Santa Bárbara, era Besita.<br />
Quando ia à missa aos domingos e dias <strong>de</strong> guarda, todos se<br />
voltavam na rua para vê-la passar. Festa em que ela não aparecesse,<br />
perdia toda a graça, até os velhos achavam <strong>de</strong>senxabida a<br />
patuscada.<br />
Filho <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iro, que tinha a mostrar bonita mula arreada <strong>de</strong><br />
prataria, lá passava duas e três vezes por dia <strong>de</strong>fronte da casa da<br />
moça, que morava em companhia do pai, quase ao sair do povoado,<br />
bem perto <strong>de</strong> nhá Tudinha.<br />
Entre os mais assíduos, nenhum levava as lampas a Luís<br />
Galvão, que era naquela época um chibante mocetão <strong>de</strong> vinte anos.<br />
Raro dia, não vinha ele ao povoado e não achava pretexto para<br />
apear-se em casa do velho Gue<strong>de</strong>s, pai <strong>de</strong> Besita.<br />
Apesar da roda que lhe faziam tantos rapazes e da balda que<br />
há em terra pequena <strong>de</strong> bisbilhotar tudo, não aparecera o menor<br />
mexerico a respeito da moça, e quando se falava <strong>de</strong>la era para gabar<br />
o seu modo sério e o recato que sabia guardar com todos, o que mais<br />
admirava por ter perdido a mãe ainda criança, e viver quase sobre si,<br />
pois o velho mal podia com seus achaques.<br />
Nesse tempo servia <strong>de</strong> camarada a Luís Galvão um rapaz <strong>de</strong><br />
pouco menos ida<strong>de</strong>, que o acompanhava constantemente em<br />
passeios e viagens. Era Jão, a quem os outros se tinham habituado a<br />
chamar <strong>de</strong> Bugre, pela tez bronzeada, que distinguia aquela raça<br />
indígena.<br />
Esse rapaz fora criado nos Pilões, antiga fazenda <strong>de</strong> Afonso<br />
Galvão, pai <strong>de</strong> Luís; e aí viera ter <strong>de</strong> um modo singular e misterioso.<br />
Um dia, no mais ar<strong>de</strong>nte da calma, quando os enxa<strong>de</strong>iros<br />
<strong>de</strong>scansam na roça à sombra das árvores esperando o jantar, e o<br />
resto da gente recolhe às habitações, acaso chegando o velho<br />
fazen<strong>de</strong>iro à janela viu parado no terreiro <strong>de</strong>serto um sen<strong>de</strong>iro sobre<br />
o qual se encarapitava uma figurinha que à primeira vista pareceulhe<br />
um macaco.<br />
89