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Til – José de Alencar

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- Tenho a certeza.<br />

- Pois havemos <strong>de</strong> ver.<br />

À tar<strong>de</strong> apareceu Luís Galvão. Contou-lhe o Gue<strong>de</strong>s a pretensão<br />

do Ribeiro, e pediu-lhe conselho. O filho do fazen<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>mudou-se;<br />

mas recobrando-se sugeriu dúvidas sobre os haveres do preten<strong>de</strong>nte,<br />

alegando ser pessoa <strong>de</strong>sconhecida no lugar.<br />

Esperou o Gue<strong>de</strong>s quinze dias, <strong>de</strong>corridos eles, disse à filha:<br />

- Tu adivinhaste, É um peralta!... Aceita a mão do Ribeiro, e<br />

serás feliz.<br />

- O que meu pai or<strong>de</strong>nar, eu o farei <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>! respon<strong>de</strong>u<br />

a menina com doce resignação.<br />

Aceitava ela esse casamento como um sacrifício, para salvar<br />

sua virtu<strong>de</strong>, embora à custa dos sonhos fagueiros <strong>de</strong> sua alma.<br />

Espalhada a notícia do casamento, Jão sabendo-a teve um cruel<br />

sossôbro, como se fora ele próprio a quem a moça repudiasse para se<br />

dar a outro. Tão i<strong>de</strong>ntificados estavam em sua alma os dois amantes,<br />

que ele já não os separava em seu afeto; e envolvia Luís na adoração<br />

que tinha por Besita, e esta na amiza<strong>de</strong> que voltava àquele.<br />

A primeira vez que <strong>de</strong>pois disso o capanga viu a moça à janela,<br />

voltou o rosto para não lhe falar.<br />

- Está mal comigo, Jão? disse Besita com o modo afetuoso que<br />

lhe era habitual.<br />

Deitou-lhe o bugre um olhar duro, e pregando a aba do chapéu<br />

na testa com um murro, não tugiu.<br />

- Que lhe fiz eu, para não me falar?<br />

- Mecê não vai se casar com o Ribeiro?<br />

- É por isso?<br />

- E nhô Luís?<br />

Besita fitou o rapaz nos seus gran<strong>de</strong>s olhos, on<strong>de</strong> brilhavam<br />

aljôfares <strong>de</strong> lágrimas, e mostrou-lhe um cravo que tinha nos cabelos.<br />

- Se você, Jão, atirasse na beira da estrada, como uma coisa à<br />

toa, esta flor, podia se queixar porque outro a apanhasse para si?<br />

- Então ele não quer bem a Nhazinha?<br />

- Quer, mas como tem querido a outras antes <strong>de</strong> mim: não<br />

mereço ser sua mulher!<br />

Partiu-se Jão a galope e foi ter em casa com o patrão:<br />

- Nhô Luís, ela lhe quer bem!... case com ela!<br />

- Qual, Jão!... O velho não admite!<br />

Não quis ouvir mais o Bugre; arrecadou em um lenço o que<br />

tinha <strong>de</strong> seu, tão pouco era, e <strong>de</strong>spediu-se do patrão com estas<br />

palavras:<br />

- Po<strong>de</strong> procurar outro camarada; eu não conto mais com o<br />

senhor.<br />

Foram baldados os esforços que fez Luís Galvão para retê-lo. O<br />

Bugre ficou inabalável na resolução que tomara em um minuto, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar a casa on<strong>de</strong> fora acolhido e vivera <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância.<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois efetuou-se o casamento <strong>de</strong> Besita com o<br />

Ribeiro; mas este ao sair da igreja recebeu uma carta, que o<br />

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