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Til – José de Alencar

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se escon<strong>de</strong> entre as pétalas da rosa, havia um segredo a suspirar<br />

nesses lábios mimosos.<br />

- Esta noite as moças ficam sempre tão contentes! disse a<br />

menina em tom suave <strong>de</strong> queixume.<br />

- E você? tornou Berta com um sorriso.<br />

- Eu não!<br />

- Por que, Linda?<br />

- Todas tem uma pessoa que pense nela.<br />

- Então você não tem? perguntou Berta com um doce remoque.<br />

Linda abanou a cabeça melancolicamente.<br />

- E Miguel?<br />

- Ele não gosta <strong>de</strong> mim! suspirou a menina com o lábio<br />

balbuciante e uma lágrima a tremer na pálpebra.<br />

Respon<strong>de</strong>u-lhe Berta com uma fresca risada, que <strong>de</strong>bulhou<br />

mesmo nas faces da amiga, como os bagos nacarados e saborosos <strong>de</strong><br />

uma romã.<br />

- Olhem que sonsinha!...<br />

- Nunca mais lhe direi nada, Berta! acudiu Linda, ressentida do<br />

modo por que recebera a amiga sua confidência.<br />

- Pois, menina, você tem lembranças, que a gente não po<strong>de</strong><br />

mesmo <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> rir-se. Então Miguel não gosta da senhora? Era<br />

preciso que ele não tivesse olhos para ver essa carinha <strong>de</strong> feitiço.<br />

- Há outra que ele acha mais bonita!<br />

- Outra?... Qual?... perguntou Berta <strong>de</strong> todo confusa.<br />

- Esta, que ele vê a todo momento! replicou Linda, afagando o<br />

semblante da amiga com um gesto <strong>de</strong> triste resignação.<br />

De novo disparou Berta a rir com a lembrança da amiga.<br />

- Ai, que ciumenta, Jesus!<br />

Retiniu perto o grito áspero do curiau. No meio do silêncio que<br />

reinava naquele sítio, como era natural, excitou esse brusco rumor a<br />

atenção das duas amigas, e arrancou-as à anterior preocupação.<br />

Berta sobressaltou-se com a lembrança <strong>de</strong> que ouvira o mesmo apito<br />

no dia da tocaia.<br />

Conteve-se receando assustar Linda; mas, apesar da promessa<br />

que lhe fizera o Bugre, estremecia com a idéia <strong>de</strong> que Luís Galvão<br />

<strong>de</strong>via chegar <strong>de</strong> Campinas naquela manhã, e talvez ao passar na<br />

volta da Ave-Maria fosse vítima do assassinato que ela uma vez<br />

impedira. Em falta <strong>de</strong> Jão Fera, a oculta vingança que ameaçava a<br />

existência do fazen<strong>de</strong>iro, teria procurado outro instrumento.<br />

- Vamos ao mirante, Linda? O sr. Galvão não po<strong>de</strong> tardar.<br />

- Papai só chega ao meio dia; respon<strong>de</strong>u a moça erguendo-se<br />

para acompanhar a amiga.<br />

Na ocasião em que as duas atravessavam a horta, um vulto se<br />

esgueirando por <strong>de</strong>trás dos pessegueiros, passava a cerca e sumia-se<br />

no canavial. Berta que o viu nessa ocasião, e apenas <strong>de</strong> relance,<br />

inquiriu <strong>de</strong> Linda para certificar-se.<br />

- Não é o Faustino aquele?<br />

A filha do Galvão, distraída, <strong>de</strong> nada se apercebera.<br />

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