16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

chamava a toda a pressa para Itu para salvar a maior parte da<br />

herança, que o tio confiara a um negociante daquela vila, hoje<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Partiu o Ribeiro no dia seguinte para voltar logo. Sua mulher foi<br />

viver na casa da fazendola, que o trouxera a Santa Bárbara, na<br />

intenção <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>-la; e agora <strong>de</strong>via servir-lhe <strong>de</strong> morada ao menos<br />

nos primeiros tempos do casamento.<br />

III<br />

Bebê<br />

Tinham <strong>de</strong>corrido dois meses <strong>de</strong>pois do casamento <strong>de</strong> Besita.<br />

Eram nove horas da noite. A moça beijando a mão do pai, se<br />

recolhera à alcova; e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> rezar, cismava em sua vida,<br />

lembrando-se com sauda<strong>de</strong> dos sonhos <strong>de</strong> ventura que fizera outrora<br />

e que tão <strong>de</strong>pressa se tinham <strong>de</strong>svanecido.<br />

Encostada à rótula da janela, com os olhos engolfados no azul,<br />

bebendo a cintilação das estrelas como um orvalho <strong>de</strong> luz, sentia-se<br />

arrastada para aquele passado recente, e <strong>de</strong>leitava-se com as<br />

reminiscências das carícias <strong>de</strong> Luís e dos seus ternos protestos, que<br />

ela sabia mentidos, mas que não obstante a embeveciam.<br />

Já todos dormiam na casa, quando ela, <strong>de</strong>ixando a janela,<br />

<strong>de</strong>itou-se. Nesse instante ouviu sobressaltada bater à porta. Quem<br />

seria, àquela hora?<br />

Soaram os passos <strong>de</strong> Zana no corredor e logo <strong>de</strong>pois a voz da<br />

preta a trocar perguntas e respostas com a pessoa que batia. Afinal<br />

rangeu a chave na fechadura.<br />

- Nhazinha, é sinhô!<br />

Ia Besita levantar-se precipitadamente para receber o marido,<br />

quando sentiu no escuro que dois braços a cingiam e uma carícia<br />

atalhava-lhe a palavra nos lábios.<br />

Ao bruxulear da madrugada, Zana acudindo ao chamado da<br />

moça foi achá-la <strong>de</strong>bulhada em pranto, na maior consternação.<br />

- Tu me per<strong>de</strong>ste, Zana! Não era meu marido!<br />

- Quem era então, Nhazinha? perguntou a preta espantada.<br />

- Olha! disse a moça mostrando-lhe o vulto <strong>de</strong> Luís Galvão que<br />

se afastava.<br />

- Meu Jesus do céu! exclamou Zana caindo <strong>de</strong> joelhos aos pés<br />

da senhora.<br />

Felizmente o velho não ouvira bater; e nunca soube da<br />

<strong>de</strong>sgraça da filha. Morreu meses <strong>de</strong>pois crente <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixava no<br />

mundo feliz e amparada.<br />

Uma pessoa, porém, suspeitou do que havia ocorrido. Foi Jão<br />

Bugre, que na sua indignação quis matar Luís Galvão; e o teria feito,<br />

se Besita não o proibisse.<br />

Entretanto o Ribeiro não dava cópia <strong>de</strong> si; corriam os meses<br />

sem que em Santa Bárbara houvesse novas <strong>de</strong>le, e do rumo que<br />

94

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!