16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

família, e, embora se mostrasse altaneiro comigo, acredito que me<br />

respeita.<br />

- Essa gente não é capaz <strong>de</strong> gratidão, Luís; ao contrário, o<br />

benefício os humilha, e eles revoltam-se contra o que chama uma<br />

injustiça do mundo.<br />

O Bugre é uma fera, na verda<strong>de</strong>; contam-se <strong>de</strong>le as maiores<br />

atrocida<strong>de</strong>s; porém esse homem <strong>de</strong> más entranhas tem um resto do<br />

consciência e probieda<strong>de</strong>. Não há exemplo <strong>de</strong> haver atirado a alguém<br />

por trás do pau, ou <strong>de</strong> emboscada: ataca sempre <strong>de</strong> frente, expondose<br />

ao perigo. O bacamarte só lhe serve para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, quando o<br />

perseguem. Também nunca ouvi falar <strong>de</strong> roubo ou furto que ele<br />

cometesse, e isso apesar <strong>de</strong> viver ele pelos matos, constantemente<br />

acossado.<br />

- E ainda não foi preso um criminoso <strong>de</strong> tantas mortes?<br />

- Não é por falta <strong>de</strong> diligência. Andam-lhe à pista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito<br />

tempo; e até, se não me engano, ouvi que tinham prometido um<br />

prêmio a quem <strong>de</strong>sse cabo <strong>de</strong>le; mas até agora não se animaram, tal<br />

é o temor que inspira.<br />

- Bem razão tenho eu, portanto, <strong>de</strong> assustar-me, quando um<br />

facinoroso <strong>de</strong>sses aparece <strong>de</strong>ntro da fazenda: talvez an<strong>de</strong> ele<br />

rondando a nossa casa.<br />

- Não se lembra disso; mas, se tivesse a audácia, ele ou outro,<br />

acharia a casa bem guardada. Demais, aqui lhe <strong>de</strong>ixo um homem<br />

para <strong>de</strong>fendê-la. Não é verda<strong>de</strong>, Afonso?<br />

- Sem dúvida, meu pai. Na sua ausência nada acontecerá!<br />

- Não é por mim que receio, Luís; antes fosse; não estaria tão<br />

inquieta, disse a senhora com um leve reproche.<br />

- Nesse caso eu não partiria! respon<strong>de</strong>u o marido galanteando.<br />

- Então fique!<br />

- Sim, papai, fique! Dê esse gosto a mamãe, disse Linda.<br />

- Também a senhora não quer que eu vá? Olhe, não se<br />

arrependa! replicou o pai com um gesto <strong>de</strong> zombeteira ameaça. Levo<br />

uma certa encomenda <strong>de</strong> vestidos e enfeites, que só eu sei escolher.<br />

A moça ficou enleada entre a esperança do presente e o <strong>de</strong>sejo<br />

da mãe.<br />

- Papai compraria outra vez.<br />

- E a festa? Perguntou o pai sorrindo.<br />

A pêndula soou oito horas.<br />

IX<br />

As amostras<br />

Advertido pela pêndula, Luís Galvão consultou seu relógio <strong>de</strong><br />

algibeira e ergueu-se:<br />

- São horas!<br />

Até aquele momento nutrira D. Ermelinda uma vaga esperança,<br />

que ela mesma não podia explicar. Lembrava-se que um pequeno<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!