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Imagine-se, pois, o que pensou o Bugre quando percebeu que<br />
Luís Galvão gostava <strong>de</strong> Besita.<br />
No dia em que teve certeza do fato, o provocador das rixas foi<br />
ele, que brigou sem <strong>de</strong>scanso e com <strong>de</strong>sespero. Pelo modo por que<br />
se expunha aos golpes dos adversários, parecia obstinado em<br />
procurar a morte, que entretanto fugia caprichosamente diante <strong>de</strong>le.<br />
Quando não achou mais com quem tirar bulha, embriagou-se,<br />
ele que até então <strong>de</strong>ra provas <strong>de</strong> sóbrio; e tal foi a moafa, que todo o<br />
dia seguinte não <strong>de</strong>u acordo <strong>de</strong> si, e esteve atirado na estrada on<strong>de</strong><br />
escapou <strong>de</strong> ser esmagado por um carro <strong>de</strong> bois.<br />
Essa crise fez remissão. Recobrando-se do primeiro e violento<br />
abalo que sofrera, achou o rapaz <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, no coração revolto,<br />
certa calma e consolo.<br />
Se alguém, que não ele, tinha <strong>de</strong> ser amado por Besita, fosse-o<br />
Luís Galvão <strong>de</strong> quem era amigo; outro qualquer morreria às suas<br />
mão; assim o jurara.<br />
Adivinhou Besita as duas afeições <strong>de</strong> que era objeto, e com a<br />
intuição da mulher amada, conheceu o contraste profundo que havia<br />
entre ambas. A paixão do Bugre era submissa, a do moço imperiosa;<br />
na primeira ressumbrava a abnegação, a segunda ardia em <strong>de</strong>sejos.<br />
Sentiu ela também que ia amar, senão amava já a Luís Galvão;<br />
e por isso mesmo prevendo os perigos <strong>de</strong> sua ternura por um homem<br />
capaz <strong>de</strong> tudo ousar, tornou-se fria e constrangida em relação a ele,<br />
enquanto mostrava-se expansiva e afetuosa com o Bugre. Sabia que<br />
<strong>de</strong>ste nada tinha a recear nem mesmo um olhar impertinente, pois<br />
todo o emprenho <strong>de</strong>le era ocultar sua ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>dicação. Assim podia<br />
gozar <strong>de</strong>sse inocente prazer <strong>de</strong> ver-se adorada mudamente como<br />
uma santa.<br />
Em princípio contentou-se Luís Galvão com as visitas que sob<br />
qualquer pretexto fazia ao velho Gue<strong>de</strong>s, e os encontros que tinha<br />
com Besita na missa ou em casa <strong>de</strong> nhá Tudinha. De dia em dia<br />
porém foi-se tornando mais exigente; e chegou a alcançar da moça<br />
algumas entrevistas no quintal ao escurecer.<br />
Besita concentrava todas as duas forçar para resistir;<br />
consi<strong>de</strong>rando-se irremediavelmente perdida, buscava em torno <strong>de</strong> si<br />
um apoio que a amparasse e não achava. Seu pai era um pobre<br />
velho, que via no namoro <strong>de</strong> Luís uma boa fortuna. Não tinha em<br />
falta <strong>de</strong> sua mãe uma amiga, que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse contra os próprios<br />
impulsos <strong>de</strong> seu coração.<br />
Nestas circunstâncias, apareceu em Santa Bárbara um moço<br />
chamado Ribeiro, que vinha arrecadar alguns bens da herança <strong>de</strong> um<br />
tio. Vendo Besita, apaixonara-se por ela e a pedira em casamento ao<br />
velho Gue<strong>de</strong>s.<br />
- O Luís é melhor! disse o pai à filha, comunicando-lhe o<br />
pedido.<br />
Besita tornou-se pálida e respon<strong>de</strong>u com a voz trêmula:<br />
- Mas Luís não se casará comigo!<br />
- Tu pensas?<br />
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