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Til – José de Alencar

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Imagine-se, pois, o que pensou o Bugre quando percebeu que<br />

Luís Galvão gostava <strong>de</strong> Besita.<br />

No dia em que teve certeza do fato, o provocador das rixas foi<br />

ele, que brigou sem <strong>de</strong>scanso e com <strong>de</strong>sespero. Pelo modo por que<br />

se expunha aos golpes dos adversários, parecia obstinado em<br />

procurar a morte, que entretanto fugia caprichosamente diante <strong>de</strong>le.<br />

Quando não achou mais com quem tirar bulha, embriagou-se,<br />

ele que até então <strong>de</strong>ra provas <strong>de</strong> sóbrio; e tal foi a moafa, que todo o<br />

dia seguinte não <strong>de</strong>u acordo <strong>de</strong> si, e esteve atirado na estrada on<strong>de</strong><br />

escapou <strong>de</strong> ser esmagado por um carro <strong>de</strong> bois.<br />

Essa crise fez remissão. Recobrando-se do primeiro e violento<br />

abalo que sofrera, achou o rapaz <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, no coração revolto,<br />

certa calma e consolo.<br />

Se alguém, que não ele, tinha <strong>de</strong> ser amado por Besita, fosse-o<br />

Luís Galvão <strong>de</strong> quem era amigo; outro qualquer morreria às suas<br />

mão; assim o jurara.<br />

Adivinhou Besita as duas afeições <strong>de</strong> que era objeto, e com a<br />

intuição da mulher amada, conheceu o contraste profundo que havia<br />

entre ambas. A paixão do Bugre era submissa, a do moço imperiosa;<br />

na primeira ressumbrava a abnegação, a segunda ardia em <strong>de</strong>sejos.<br />

Sentiu ela também que ia amar, senão amava já a Luís Galvão;<br />

e por isso mesmo prevendo os perigos <strong>de</strong> sua ternura por um homem<br />

capaz <strong>de</strong> tudo ousar, tornou-se fria e constrangida em relação a ele,<br />

enquanto mostrava-se expansiva e afetuosa com o Bugre. Sabia que<br />

<strong>de</strong>ste nada tinha a recear nem mesmo um olhar impertinente, pois<br />

todo o emprenho <strong>de</strong>le era ocultar sua ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>dicação. Assim podia<br />

gozar <strong>de</strong>sse inocente prazer <strong>de</strong> ver-se adorada mudamente como<br />

uma santa.<br />

Em princípio contentou-se Luís Galvão com as visitas que sob<br />

qualquer pretexto fazia ao velho Gue<strong>de</strong>s, e os encontros que tinha<br />

com Besita na missa ou em casa <strong>de</strong> nhá Tudinha. De dia em dia<br />

porém foi-se tornando mais exigente; e chegou a alcançar da moça<br />

algumas entrevistas no quintal ao escurecer.<br />

Besita concentrava todas as duas forçar para resistir;<br />

consi<strong>de</strong>rando-se irremediavelmente perdida, buscava em torno <strong>de</strong> si<br />

um apoio que a amparasse e não achava. Seu pai era um pobre<br />

velho, que via no namoro <strong>de</strong> Luís uma boa fortuna. Não tinha em<br />

falta <strong>de</strong> sua mãe uma amiga, que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse contra os próprios<br />

impulsos <strong>de</strong> seu coração.<br />

Nestas circunstâncias, apareceu em Santa Bárbara um moço<br />

chamado Ribeiro, que vinha arrecadar alguns bens da herança <strong>de</strong> um<br />

tio. Vendo Besita, apaixonara-se por ela e a pedira em casamento ao<br />

velho Gue<strong>de</strong>s.<br />

- O Luís é melhor! disse o pai à filha, comunicando-lhe o<br />

pedido.<br />

Besita tornou-se pálida e respon<strong>de</strong>u com a voz trêmula:<br />

- Mas Luís não se casará comigo!<br />

- Tu pensas?<br />

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