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- E mamãe fica só?<br />
- Preciso <strong>de</strong>scansar um pouco até a hora do almoço.<br />
- Sente alguma coisa, minha mamãe?<br />
- Nada, fadiga apenas. Até logo.<br />
- Quer ir, Afonso?<br />
- Se você quiser, Linda!<br />
- Vão; a manhã está bonita, insistiu a mãe.<br />
D. Ermelinda por este meio tratava <strong>de</strong> afastar os filhos, cuja<br />
solicitu<strong>de</strong> dispensava nesse momento, pela razão <strong>de</strong> os não afligir<br />
comunicando-lhes a tristeza e inquietação que a assaltava com<br />
dobrada força.<br />
Apenas eles a <strong>de</strong>ixaram, subiu apressadamente ao mirante para<br />
acompanhar com os olhos ao marido, até a volta que fazia o caminho<br />
no canto da tigüera e on<strong>de</strong> se perdia <strong>de</strong> todo a vista da casa.<br />
Os viajantes, que já estavam a poucas braças dali, pararam <strong>de</strong><br />
repente, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pequena <strong>de</strong>mora retroce<strong>de</strong>ram apressados.<br />
Surpresa com o inci<strong>de</strong>nte, D. Ermelinda <strong>de</strong>u graças a Deus daquela<br />
volta inesperada, que lhe restituía o marido, a quem por coisa<br />
alguma <strong>de</strong>ixaria mais partir.<br />
A angústia que sofrera naqueles poucos instantes, os<br />
pensamentos cruéis que lhe crivavam a alma nesse breve trato, não<br />
os sentira ela talvez em anos <strong>de</strong> sua vida. Suplicaria a seu marido<br />
que <strong>de</strong>sistisse da viagem; e ele havia <strong>de</strong> atendê-la, ou então <strong>de</strong><br />
arrastá-la abraçada a seus joelhos.<br />
Aproximavam-se os viajantes; repassaram a cancela e afinal<br />
pararam em frente à casa on<strong>de</strong> Luís Galvão apeou rijo.<br />
- Que foi? Perguntou D. Ermelinda que <strong>de</strong>scera do sótão a<br />
encontrá-lo.<br />
- Ora, respon<strong>de</strong>u o fazen<strong>de</strong>iro a rir, não sei on<strong>de</strong> pus as<br />
amostrar da Linda com a lista das encomendas.<br />
Outra vez D. Ermelinda achou em si a força para reagir contra<br />
seus imaginários terrores. Esse coração <strong>de</strong> mãe sacrificava às<br />
inocentes alegrias da filha o seu sossego; é uma banalida<strong>de</strong> sublime,<br />
que se encontra por aí, a cada canto, e <strong>de</strong> que já ninguém se ocupa.<br />
Correu Luís Galvão ao gabinete à busca dos objetos esquecidos;<br />
e enquanto a mulher ajudava-o <strong>de</strong> seu lado na pesquisa, abriu ele a<br />
medo o segredo da secretária e tirou um papel, que rápida e<br />
furtivamente escon<strong>de</strong>u no bolso.<br />
Era este o motivo real da sua volta; o outro não passava <strong>de</strong><br />
pretexto. Apenas teve Galvão seguro o papel em um bolso, que<br />
tirando à sorrelfa um pequeno embrulho do outro, exclamou:<br />
- Aqui está!<br />
- Aon<strong>de</strong> achou?<br />
- Dentro <strong>de</strong>sta caixa <strong>de</strong> charutos. Só eu era capaz <strong>de</strong> achá-lo.<br />
Foi quando enchi a carteira.<br />
Abraçando a mulher e beijando-a na face, <strong>de</strong> novo pôs-se o<br />
fazen<strong>de</strong>iro a caminho; e <strong>de</strong>sta vez ia pensativo, quase triste.<br />
Murchara a flor da jovialida<strong>de</strong>, que se expandia momentos antes tão<br />
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