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Til – José de Alencar

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aci<strong>de</strong>nte qualquer podia estorvar ou pelo menos adiar a viagem.<br />

Vendo chegar a <strong>de</strong>spedida, empali<strong>de</strong>ceu:<br />

- Se você aflige-se <strong>de</strong>ssa maneira, Ermelinda, não vou. Faz-me<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarranjo, como sabe; mas não tenho ânimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-la tão<br />

sobressaltada.<br />

- Confesso que esta emoção faz-me mal; já não me sinto boa.<br />

- Então fico: está <strong>de</strong>cidido.<br />

Uma sombra <strong>de</strong> tristeza perpassou rapidamente pelo semblante<br />

<strong>de</strong> Linda; todavia não escapou ao olhar da mãe, que adivinhou a<br />

causa <strong>de</strong>ssa mágoa da moça.<br />

- Mas, Luís, esta viagem é necessária, e, no fim <strong>de</strong> contas,<br />

meus sustos não têm razão <strong>de</strong> ser. Você precisa concluir esse<br />

negócio; e Linda ficará queixosa se não tiver os presentes<br />

prometidos.<br />

- Eu, mamãe? exclamou a menina com terna exprobração. O<br />

que eu <strong>de</strong>sejo é vê-la sempre contente.<br />

- E não é um contentamento fazer-te feliz? Já fui moça como<br />

tu; nessa ida<strong>de</strong> a ventura é uma flor, uma fita. Só <strong>de</strong>pois se<br />

compreen<strong>de</strong> o que ela vale e o que ela custa, minha filha. Não te<br />

envergonhes <strong>de</strong>ssa faceirice. Quem há <strong>de</strong> tê-la senão tu? Deus fez as<br />

estrelas para brilharem.<br />

- Então o que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m? Perguntou Luís Galvão.<br />

- Vá; eu lhe peço.<br />

- Por minha causa, não! contestou Linda.<br />

- Pela minha, disse D. Ermelinda.<br />

Calçadas as luvas e feitos os últimos aprestos, <strong>de</strong>spediu-se o<br />

viajante da família e montou a cavalo.<br />

No momento <strong>de</strong> abraçar o marido, D. Ermelinda com disfarce<br />

apalpou-lhe o peito, e ficou mais tranqüila percebendo o revólver no<br />

bolso do casaco. Não obstante, custou-lhe muito essa <strong>de</strong>spedida;<br />

seus vagos terrores se alvoroçaram <strong>de</strong> novo, e foi preciso gran<strong>de</strong><br />

esforço para dominar-se.<br />

Entretanto Luís Galvão, esporeando a rosilha, <strong>de</strong>pois que disse<br />

o último a<strong>de</strong>us com a palavra e o gesto, passou a cancela do terreiro.<br />

Acompanhava-o <strong>de</strong> perto, a meio-corpo da cavalgadura, o camarada<br />

Mandu; adiante ia o pajem para abrir as tronqueiras; e entre ele e o<br />

viajante trotava o baio, solto, mas <strong>de</strong> todo arreado e pronto para o<br />

revezo.<br />

- Logo hoje é que seu pai leva um camarada só.<br />

- Por que, mamãe? perguntou Linda.<br />

- O Pereira adoeceu, o outro, ninguém sabe on<strong>de</strong> anda.<br />

- Se mamãe quer, eu acompanho meu pai, disse Afonso<br />

fazendo menção <strong>de</strong> dirigir-se à cavalariça. Em um instante o<br />

alcançarei.<br />

- Não, não Afonso! acudiu vivamente a senhora, já se não viam<br />

os viajantes, ocultos pelo arvoredo. D. Ermelinda, antes <strong>de</strong> entrar,<br />

voltou-se para os filhos:<br />

- Vão passear!<br />

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