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<strong>de</strong>rramando a vista pelo arvoredo, ficou transida, como se lhe<br />
surgisse em face um espectro.<br />
Enxergara o rosto <strong>de</strong> Ribeiro, que se ocultou entre a folhagem.<br />
Seria apenas uma alucinação <strong>de</strong> seu espírito, ou a tremenda<br />
realida<strong>de</strong>, cuja idéia tantas vezes a enchera <strong>de</strong> terror, nas longas<br />
noites não dormidas?<br />
A tremer chamou a preta, que estava na cozinha cuidando do<br />
almoço:<br />
- Meu marido, Zana!...<br />
Aterrou-se a ama, ouvindo da senhora os pormenores da<br />
aparição, que anunciava tamanhas <strong>de</strong>sgraças; e esteve algum tempo<br />
a espiar por entre a rótula a ver se lobrigava ainda o vulto do Ribeiro,<br />
mas nada viu.<br />
Acudiu-lhe então uma lembrança engenhosa, com a qual<br />
esperou e por entre a rótula quase cerrada, não podia o Ribeiro<br />
distinguir o semblante da criança. Tomou-a Zana dos braços<br />
<strong>de</strong>sfalecidos da senhora, e levando-a a seu cubículo, tisnou-lhe o<br />
corpo <strong>de</strong> carvão.<br />
Feito isto arranjou outra vez as fraldas e a touca; e saiu ao<br />
terreiro para acalentar a criança, andando <strong>de</strong> uma para outra banda,<br />
e entoando a costumada cantiga, mas então alterada por esta forma:<br />
Cala a boca, anda, negrinha,<br />
Ai-uê-lêlê!<br />
Senão olha canhambola,<br />
Ai-uê-lêlê!<br />
Vem cá mesmo Pai Surrão<br />
Toma, papa este tição.<br />
Compreen<strong>de</strong>u Besita o ardil da preta, e no <strong>de</strong>samparo em que<br />
se achava, confiou nessa frágil esperança.<br />
Passou o resto da manhã sem o menor aci<strong>de</strong>nte. Assim<br />
<strong>de</strong>svaneceu-se o primeiro sobressalto, e a moça inclinada a crer que<br />
apenas fora vítima <strong>de</strong> uma ilusão cruel, cobrou ânimo, embora não se<br />
pu<strong>de</strong>sse esquivar à inquietação que lhe <strong>de</strong>ixara o terrível susto.<br />
Veio a tar<strong>de</strong>: o céu estava sereno, e coava-se no espaço uma<br />
aragem tão doce que Besita encostou-se ao peitoril da janela. Com a<br />
fronte <strong>de</strong>scansada à ombreira, <strong>de</strong>ixando cair para fora as longas<br />
tranças <strong>de</strong> seus lindos cabelos negros, que a brisa fazia ondular,<br />
embebia-se em contemplar a estrela vespertina, que cintilava no<br />
horizonte. Súbito, no esquecimento <strong>de</strong>ssa cisma, uma estranha idéia<br />
<strong>de</strong>spontou-lhe no espírito. Pareceu-lhe que, através da cintilação da<br />
luz, <strong>de</strong>senhava-se a imagem <strong>de</strong> sua mãe, a sorrir-lhe lá do céu e a<br />
chamá-la.<br />
Então ouviu Zana um grito <strong>de</strong> terror, que se extinguiu em um<br />
gemido <strong>de</strong> angústia. Fora <strong>de</strong> si correu à alcova da senhora, on<strong>de</strong> a<br />
esperava um quadro horrível.<br />
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