16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Entretanto, o sub<strong>de</strong>legado em companhia <strong>de</strong> alguns cidadãos mais<br />

animosos dirigia-se à ca<strong>de</strong>ia para verificar o fato, divulgado pela voz<br />

pública.<br />

Havia exageração na notícia: <strong>de</strong>ra-se apenas a fuga <strong>de</strong> um preso,<br />

que arrancara por um esforço <strong>de</strong>sesperado um varão da enxovia; e<br />

aproveitando-se da distração da sentinela no momento <strong>de</strong> passar a<br />

cavalgata, saltara na rua, arrebatara a um caiapó a croça <strong>de</strong> capim, e<br />

per<strong>de</strong>ra-se na turbamulta.<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois, Luís Galvão com a família voltava a Santa Bárbara.<br />

D. Ermelinda que insistira em ver a festa, na vaga esperança <strong>de</strong><br />

quebrar o enleio no qual viviam ela e o marido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a noite <strong>de</strong> São<br />

João, se obstinara em voltar para as Palmas naquela mesma tar<strong>de</strong>.<br />

A cena da janela e o dito misterioso do caiapó tinham produzido nela<br />

tão profundo abalo, que já não podia conter as sublevações da sua<br />

dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esposa, indignamente ultrajada por quem mais a <strong>de</strong>via<br />

zelar.<br />

Era urgente e in<strong>de</strong>clinável a explicação, que retardara por melindre<br />

<strong>de</strong> sua alma e pela natural esquivança que sente-se em dissipar por<br />

todo o sempre a doce ilusão da felicida<strong>de</strong>.<br />

Apressando o cavalo, D. Ermelinda transpunha a distância que ainda<br />

a separava da casa. Afonso galopava ao lado <strong>de</strong> sua mãe, enquanto<br />

Luís Galvão e Linda vinham após largo intervalo, ao passo mo<strong>de</strong>rado<br />

dos animais.<br />

Terminava o crepúsculo; mas a lua assomando no horizonte coava o<br />

seu lívido clarão através da morte-côr, que o dia expirante ia<br />

<strong>de</strong>ixando pelos ermos.<br />

Emu<strong>de</strong>cera o hino da tar<strong>de</strong>, repassado <strong>de</strong> ternas melodias, e a<br />

natureza, a máxima e sublime orquestra, preludiava a elegia da<br />

noite. O primeiro grilo soltava o estrídulo; e o seio da floresta agitada<br />

pela viração da noite, arfava ao ofego <strong>de</strong> um gemido plangente.<br />

À beira da estrada via-se um vulto negro, que <strong>de</strong> longe afigurava-se<br />

urna <strong>de</strong> algum bugre, esquecida à flor da terra. Ao tropel dos animais<br />

o vulto ergueu a cabeça. Era Zana. Soltando um grito <strong>de</strong> espanto,<br />

arrojou-se à frente do cavalo <strong>de</strong> Afonso, e esten<strong>de</strong>u as mãos<br />

súplices:<br />

180

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!