You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
- Nada, obrigado.<br />
- Ainda que mal pergunte, o patrício vem <strong>de</strong> longe?<br />
- De Campinas!<br />
- E anda caçando? Por estas bandas há muito veado e paca:<br />
mas como os caititus este ano, nunca se viu: é mesmo uma praga!<br />
- Nós cá andamos no rasto, mas é <strong>de</strong> outra caça! atalhou um<br />
dos caipiras a rir.<br />
- Viemos <strong>de</strong>sencovar uma onça! acudiu outro.<br />
- E é suçuarana!<br />
- Qual! Tigre verda<strong>de</strong>iro!<br />
Fizeram coro os caipiras na gargalhada que <strong>de</strong>spertara o dito do<br />
companheiro. Não compreen<strong>de</strong>ndo a pilhéria, o Gonçalo estava a<br />
olhá-los meio <strong>de</strong>sconfiado e com um riso insosso.<br />
- O patrício não lobriga?<br />
- Por vida, que não! tornou o Gonçalo. Ainda que Suçuarana é o<br />
sobrenome cá do <strong>de</strong>gas; por causa <strong>de</strong> ser malhado como a bicha.<br />
Não vê?...<br />
E mostrou as manchas da cara.<br />
- Sem falar da munheca!... Talvez o amigo não acredite; mas<br />
on<strong>de</strong> a vê, já pegou queda <strong>de</strong> braço com uma; e mais era um bichão<br />
da altura daquela porta, sem exageração! Agora quanto às risadas<br />
dos patrícios, a falar verda<strong>de</strong> não avento!<br />
- Já vê que é caça gorda.<br />
- É cá uma história!<br />
- Por força que há <strong>de</strong> conhecer um tal Jão Bugre?<br />
- Conheço bem!<br />
- Pois aí está a bicha fera que viemos <strong>de</strong>sencovar. Parece que a<br />
furna <strong>de</strong>le fica por aqui perto. Não podia nos dar notícia?<br />
- Mas então os camaradas andam-lhe na pista?<br />
Entrava o Chico Tinguá, com a pichorra <strong>de</strong> café e as palanganas<br />
que <strong>de</strong>itou sobre a mesa, recostando-se <strong>de</strong>pois ao portal da entrada,<br />
com a perna trançada e a mão no quadril.<br />
- Não ouviu falar no Aguiar, do Limoeiro, não?... Um fazen<strong>de</strong>iro,<br />
que o tal Bugre arrumou com duas facadas, há <strong>de</strong> andar por uns dois<br />
meses?<br />
- Tenho uma idéia, replicou o Gonçalo.<br />
- O negócio <strong>de</strong>u brado, porque o homem era rico e andava<br />
sempre com uma ruma <strong>de</strong> capangas. Mas Bugre fez-lhe as contas.<br />
- É um temível!<br />
- Marcado como ele só!<br />
- Nem por isso! observou o Pinta. Mas então é por causa <strong>de</strong>ssa<br />
morte que os camaradas vêm prendê-lo?<br />
- O filho do Aguiar dá dois contos a quem filiar o meco.<br />
- Não digo que não!<br />
- Se quer entrar na festa?<br />
Relanceando um olhar ao Tinguá, que parecia cochilar<br />
encostado à ombreira da porta, respon<strong>de</strong>u o Gonçalo com frouxidão:<br />
- Nada; tenho obra mais fina.<br />
59