Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
- Quem sabe se o senhor conhece o Bugre?<br />
-Pois que dúvida!<br />
- Será mesmo o durão que dizem?<br />
- É conforme. Eu cá não conto com ele.<br />
- Hum!...<br />
- O senhor bem podia nos dar alguma inculca do bicho?<br />
- Cá o amigo Chico é quem há <strong>de</strong> saber por on<strong>de</strong> anda o cujo.<br />
Oh! psiu!...<br />
- Nhô Pinta... Ah! Nhô Gonçalo! Acudiu o Tinguá querendo<br />
engolir as primeiras palavras escapadas.<br />
- Não sabe que rumo levou o Jão?<br />
- Tanto como mecê.<br />
- Ora, an<strong>de</strong> lá.<br />
- Ele aparece aqui, e arrancha tal e qual como os outros; não<br />
conta on<strong>de</strong> pousa; nem a gente indaga da vida alheia.<br />
- Pois tocava uma boa maquia a quem nos pusesse no rasto da<br />
onça. Cem bicos!<br />
Nesse momento um bacorinho <strong>de</strong> pelo ruivo, embestegava com<br />
um trote miúdo, mas ligeiro, pela cozinha, e atravessou toda a casa<br />
até a pousada, on<strong>de</strong> conversava a capangada. Aí começou a fossar<br />
nas pernas do Chico Tinguá, que, arrancando-se à balorda posição,<br />
<strong>de</strong>sfechou no importuno animal um pontapé.<br />
- Arre, patife.<br />
Deu-se por advertido o bacorinho, que imediatamente enfiou<br />
outra vez pela venda e foi sair no quintal, on<strong>de</strong> pôs-se a grunhir com<br />
o focinho ao vento e os olhos na porta da cozinha.<br />
- Pelos modos lá o homem <strong>de</strong> Campinas está com gana mesmo<br />
no Bugre? observou o Gonçalo que não tirava os olhos do Chico.<br />
Pu<strong>de</strong>ra não! Da maneira por que arranjou-lhe o pai!<br />
- Xô!... Eh! Baia!... xô!... Diabo <strong>de</strong> mula canhambola!<br />
Partiam vozes do vendilhão, que fazia um gran<strong>de</strong> escarcéu com<br />
braços e pernas, a fim <strong>de</strong> espantar uma besta muar que sua<br />
imaginação figurava estar furando a cerca do pasto, ao lado direito da<br />
casa. Entretanto o inocente animal assim caluniado pelo dono<br />
restolhava pacatamente a grama tosada, em companhia <strong>de</strong> uma<br />
porca e um bacorinho preto, <strong>de</strong> tamanho igual ao do outro.<br />
Afinal atirou-se o Chico para a cerca, sempre a enxotar o burro,<br />
e quebrando o canto <strong>de</strong>sapareceu.<br />
O Gonçalo, a quem não escapara esse manejo, ergueu-se<br />
pronto da mesa, e, correndo ao ângulo da casa, observou o campo<br />
oculto pela quina da pare<strong>de</strong>.<br />
O bacorinho trotava pela vereda que ia dar ao mato, e<br />
seguindo-lhe as pegadas, o Chico Tinguá estugava o passo.<br />
Riu-se o Gonçalo, e do terreiro disse ao Filipe:<br />
O patrício faz favor?<br />
XXII<br />
60