16.06.2013 Views

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

Til – José de Alencar

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ficava sobranceiro ao canavial, a arrombando-o podia arrojar sobre o<br />

foco do incêndio uma formidável manga d’água que o extinguisse.<br />

Enganara-se, porém, Galvão. Apenas lhe iam no encalço, mas<br />

agachados e esgueirando-se por entre a folhagem os dois vultos <strong>de</strong><br />

Faustino e Monjolo, impaciente <strong>de</strong> assistirem à catástrofe, e verem<br />

consumado o crime <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pendia a satisfação <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos.<br />

Ainda <strong>de</strong>sta vez Monjolo tinha amiú<strong>de</strong> ímpetos <strong>de</strong> atirar-se ao pajem,<br />

e cravar-lhe o quicé no coração; sobretudo quando lembrava-se que<br />

Barroso prometera àquele a liberda<strong>de</strong> e posse <strong>de</strong> Rosa.<br />

Mas continha-se; e não por escrúpulo, mas por um requinte <strong>de</strong><br />

cruelda<strong>de</strong>.<br />

Só, na alcova on<strong>de</strong> a tinha <strong>de</strong>ixado o marido, D. Ermelinda transida<br />

<strong>de</strong> susto com o anúncio do incêndio, arrastou-se afinal para a escada<br />

do mirante; ao tempo em que já a filha <strong>de</strong>spertada pelo rumor a<br />

procurava, e Afonso arrancado ao sono ganhava terreiro para acudir<br />

ao que fosse preciso.<br />

- On<strong>de</strong> está meu pai? perguntou ele.<br />

- Lá, no canavial, Afonso! Corre, meu filho!...<br />

Estimulando o mancebo com esta prece ansiada, acompanhava a<br />

senhora com olhar ar<strong>de</strong>nte o vulto do marido, que chegava ao canto<br />

do carreador e <strong>de</strong>stacava-se na zona abrasada que o incêndio<br />

projetava em torno.<br />

Tinha-se já arremessado avante o mancebo, quando estacou <strong>de</strong><br />

súbito, ouvindo um grito <strong>de</strong> angústia que partia do mirante. Voltou-se<br />

e não viu mais D. Ermelinda.<br />

- Minha mãe! O que é?<br />

- Acuda, mano! clamava Linda com voz dilacerante.<br />

Um reflexo da labareda mostrou rapidamente ao moço, no muro do<br />

mirante, a figura transtornada da irmã, que apontava para o canavial,<br />

arcando contra o parapeito como se quisesse precipitar-se. Mas antes<br />

que o vislumbre da chama passasse, abateu-se aquela sombra.<br />

Chorava a filha sobre o corpo inanimado da mãe.<br />

Desmaiara D. Ermelinda ao ver, no canavial, surgir da sobra um<br />

homem, que, brandindo um cacete sobre a cabeça <strong>de</strong> Luís Galvão, o<br />

prostrou ao chão como um corpo morto.<br />

157

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!