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Til – José de Alencar

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fresca em seu nobre semblante, e a alma franca e generosa sempre a<br />

espelhar-se em seu olhar, dir-se-ia que se acanhava.<br />

O pequeno inci<strong>de</strong>nte da volta viera a toldar aquele sentimento<br />

que mais ou menos é infalível em todo o coração por magnânimo que<br />

seja, como da ânfora on<strong>de</strong> por muito tempo se guardou o vinho puro<br />

e generoso, há sempre lia no fundo.<br />

Luis Galvão tinha um segredo em sua vida, talvez uma falta; e<br />

o ocultava <strong>de</strong> todos, mas especialmente da mulher. Ver-se humilhado<br />

perante aqueles a quem se ama, e cuja estima se alcançou, não po<strong>de</strong><br />

haver maior suplício para o homem <strong>de</strong> brios.<br />

O esquecimento do papel, que sem dúvida continha revelação<br />

ou referência do segredo, e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer a uma<br />

simulação para ocultar o verda<strong>de</strong>iro motivo <strong>de</strong> sua volta; esses<br />

pequenos embustes sem conseqüências, e que talvez a outros nem<br />

mais lhe roçassem na memória, o estavam remor<strong>de</strong>ndo<br />

interiormente.<br />

Chegaram afinal os viajantes ao canto da tigüera. Havia junto a<br />

um copado guarantã, que lhe dava sombra, uma ponte <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<br />

lançada sobre as altas ribanceiras <strong>de</strong> um córrego, que regava parte<br />

das terras lavradas.<br />

Aí estava a última tronqueira da fazenda.<br />

Voltou-se Luís Galvão para enviar um a<strong>de</strong>us à mulher, que lhe<br />

acenava com o lenço, e <strong>de</strong>sapareceu.<br />

X<br />

Os gêmeos<br />

Deixando a mãe, separaram-se os dois irmãos para se<br />

encontrarem no pátio interior, don<strong>de</strong> também havia passagem para<br />

as jeiras da fazenda.<br />

Linda fora tomar a capelina <strong>de</strong> fustão branco, e Afonso o boné e<br />

o bastão <strong>de</strong> passeio. Assim preparados, puseram-se a caminho par a<br />

par, garrulando como um casal <strong>de</strong> coleiros que <strong>de</strong>ixam a asa materna<br />

para folgarem pela grama ensaiando os primeiros vôos.<br />

- Que fingido é você, mano! dizia Linda. Quando eu lhe<br />

perguntei se vinha passear, respon<strong>de</strong>u-me “se quiser” e estava<br />

morrendo!<br />

- Com pena <strong>de</strong> uma certa pessoa, que não fazia senão olhar lá<br />

para a figueira.<br />

- Que história! disse Linda corando.<br />

- Eu respondi “se quiser” mesmo <strong>de</strong> propósito; para ver sua<br />

tenção. Você não disse ontem que sou eu quem vai todos os dias<br />

para aquele lado?<br />

- E é, sim.<br />

- Deveras! Sustente outra vez, e verá se não volto.<br />

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