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conservar a liberda<strong>de</strong>, a que a habituara uma educação campestre,<br />
no mais esquivava-se quanto podia ao império que lhe <strong>de</strong>feriam os<br />
súditos <strong>de</strong> sua graça e gentileza.<br />
Assim explica-se como podia Berta passar horas e horas nas<br />
ruínas, observando Zana e esforçando por <strong>de</strong>svendar o mistério<br />
<strong>de</strong>ssa louca solitária, que ali vivia ao <strong>de</strong>samparo, completamente<br />
esquecida e nutrindo-se <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> raízes cruas, antes que a menina<br />
se incumbisse da tarefa <strong>de</strong> prover a sua subsistência.<br />
No dia em que estamos não acabou Zana a pantomima <strong>de</strong> sua<br />
visão diária.<br />
Quando se aproximava pé ante pé da janela da alcova, em<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem espreita, os olhos da negra esbarraram com os <strong>de</strong><br />
um homem. Era o Barroso que assomara <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do mato, pouco<br />
antes, e dirigiu-se passo a passo para as ruínas.<br />
Estremeceu a doida, e tão violenta foi a propulsão, que a fez<br />
saltar sobre si. Com os olhos esbugalhados, a boca escancarada e os<br />
beiços arregaçados, ficou banza um instante; mas logo, espancada<br />
pelo terror, precipitou-se para fora tão <strong>de</strong>sastradamente que errou a<br />
porta e bateu em cheio na taipa.<br />
De novo arremeteu, e rechaçada pelo choque, andou aos<br />
embates contra a pare<strong>de</strong>, até que acertando com o vão da porta<br />
fugiu estremunhada <strong>de</strong> pavor.<br />
Advertida pelo primeiro sintoma <strong>de</strong> estupefação da louca, Berta<br />
seguindo-lhe a direção do olhar, avistara também o Barroso, que<br />
nesse momento parado em face da janela, a alguns passos apenas, a<br />
encarava com uma expressão <strong>de</strong> profundo rancor.<br />
Teve medo a menina, e recuou instintivamente. Estava<br />
acostumada a correr só os campos vizinhos, on<strong>de</strong> freqüentemente<br />
encontrava caipiras e toda a casta <strong>de</strong> gente malfazeja, <strong>de</strong> quem aliás<br />
nunca se receara. Esse homem, porém, inspirava-lhe uma in<strong>de</strong>finível<br />
repugnância e terror.<br />
Esteve Barroso a consi<strong>de</strong>rá-la alguns instantes, com ar <strong>de</strong> quem<br />
se resolve. Por fim, mascando um riso mau, que revia-lhe dos lábios,<br />
afastou-se murmurando:<br />
- Eu hei <strong>de</strong> saber! Ah! se fosse!...<br />
Com a partida do <strong>de</strong>sconhecido, recuperou Berta a calma <strong>de</strong><br />
espírito e volvia os olhos pela sala procurando Zana, que vira fugir,<br />
quando lhe feriram o ouvido gritos esganidos e sufocados, que<br />
vinham do terreiro.<br />
Precipitando-se da alcova, a preta viera até o terreiro da<br />
cozinha, on<strong>de</strong>, faltando-lhe as forças, abateu-se como um fardo a<br />
que retiram o apoio.<br />
Imediatamente <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do balseiro saltou com o arremesso<br />
<strong>de</strong> um gato do mato uma estranha criatura cuja roupa <strong>de</strong> grosso brim<br />
escorria para a ilusão. Acocorando-se em cima do corpo inerte da<br />
louca, apertava-lhe ao pescoço as mãos crispadas, procurando<br />
esganá-la, enquanto com os pés e os joelhos malhava-lhe o ventre.<br />
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