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Não se enganara Berta. Era <strong>de</strong> feito o pajem Faustino, que saíra<br />
<strong>de</strong> casa sorrateiramente para acudir ao grito do curiau, sinal<br />
combinado com o Barroso. Atravessando três ou quatro talões do<br />
canavial, foi ele surdir justamente no lugar on<strong>de</strong> anteriormente, no<br />
dia da partida <strong>de</strong> Luís Galvão, estava <strong>de</strong> espreita o Monjolo.<br />
Era um sítio escuso e sáfaro; ficava embaixo <strong>de</strong> uma barranca,<br />
escondido pelo maciço do canavial e pelo matagal embastido que já<br />
invadira o valado.<br />
Aí estavam Barroso e Monjolo, ambos com o ouvido à escuta <strong>de</strong><br />
qualquer rumor que lhes anunciasse a chegada do pajem. O branco<br />
<strong>de</strong>scansava encostado à barranca; o negro estava acocorado como<br />
gambá, junto a uma casa <strong>de</strong> cupim.<br />
- Então o diabo chega, ou não chega? disse o Barroso ao<br />
Faustino, mal lhe pôs os olhos.<br />
Não tarda; antes do meio dia está aí, sim senhor, respon<strong>de</strong>u o<br />
pajem.<br />
- Eh! Eh!... fez o Monjolo.<br />
- Vem mesmo?<br />
- Se vem!...<br />
- Pois então, esta noite é o batuque. Estão ouvindo?<br />
- Monjolo já está sacudindo, sim senhor! disse o africano<br />
fazendo jeito <strong>de</strong> saracotear.<br />
- Tomara eu ver a dança! acudiu o pajem.<br />
- Olhem lá! Cuidado em trancar a negralhada no quadrado,<br />
senão está tudo perdido.<br />
- Isto é com Monjolo!<br />
- Monjolo arranja tudo, <strong>de</strong>ixa estar.<br />
- Quando estiverem bem seguros é só dar o sinal, que o fogo<br />
rebenta cá no canavial. O diabo corre para acudir; e aí você, rapaz,<br />
tranca também a gente da casa, a mulher e os filhos, e espera, que<br />
eu não tardo, para arranjar a história. Ouviram vem?...<br />
- Não tem dúvida! disse o Faustino.<br />
- Você que é mais ladino, explica bem àquele pai.<br />
Riu-se o Monjolo, com uma expressão bestial que parecia<br />
confirmar o dito.<br />
- Mas... replicou o Faustino. Eu cá é com a condição que o<br />
senhor sabe. Eu fôrro; a Rosa, para mim; e o mulato surrado como<br />
canhambola.<br />
- Pois está entendido! disse o Barroso. Foi o ajuste.<br />
Fuzilou uma chispa na rúbida pupila do africano.<br />
- E tu, paizinho?<br />
- Monjolo não quer nada, senão gimbo muito para comprar<br />
fumo e cachaça.<br />
- Fica <strong>de</strong>scansado.<br />
Separaram-se os cúmplices. O pajem voltou à casa, Monjolo à<br />
roça, e Barroso foi juntar-se a pouca distância ao Gonçalo Pinta, que<br />
o esperava com dois animais à <strong>de</strong>stra.<br />
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