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Til – José de Alencar

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Não se enganara Berta. Era <strong>de</strong> feito o pajem Faustino, que saíra<br />

<strong>de</strong> casa sorrateiramente para acudir ao grito do curiau, sinal<br />

combinado com o Barroso. Atravessando três ou quatro talões do<br />

canavial, foi ele surdir justamente no lugar on<strong>de</strong> anteriormente, no<br />

dia da partida <strong>de</strong> Luís Galvão, estava <strong>de</strong> espreita o Monjolo.<br />

Era um sítio escuso e sáfaro; ficava embaixo <strong>de</strong> uma barranca,<br />

escondido pelo maciço do canavial e pelo matagal embastido que já<br />

invadira o valado.<br />

Aí estavam Barroso e Monjolo, ambos com o ouvido à escuta <strong>de</strong><br />

qualquer rumor que lhes anunciasse a chegada do pajem. O branco<br />

<strong>de</strong>scansava encostado à barranca; o negro estava acocorado como<br />

gambá, junto a uma casa <strong>de</strong> cupim.<br />

- Então o diabo chega, ou não chega? disse o Barroso ao<br />

Faustino, mal lhe pôs os olhos.<br />

Não tarda; antes do meio dia está aí, sim senhor, respon<strong>de</strong>u o<br />

pajem.<br />

- Eh! Eh!... fez o Monjolo.<br />

- Vem mesmo?<br />

- Se vem!...<br />

- Pois então, esta noite é o batuque. Estão ouvindo?<br />

- Monjolo já está sacudindo, sim senhor! disse o africano<br />

fazendo jeito <strong>de</strong> saracotear.<br />

- Tomara eu ver a dança! acudiu o pajem.<br />

- Olhem lá! Cuidado em trancar a negralhada no quadrado,<br />

senão está tudo perdido.<br />

- Isto é com Monjolo!<br />

- Monjolo arranja tudo, <strong>de</strong>ixa estar.<br />

- Quando estiverem bem seguros é só dar o sinal, que o fogo<br />

rebenta cá no canavial. O diabo corre para acudir; e aí você, rapaz,<br />

tranca também a gente da casa, a mulher e os filhos, e espera, que<br />

eu não tardo, para arranjar a história. Ouviram vem?...<br />

- Não tem dúvida! disse o Faustino.<br />

- Você que é mais ladino, explica bem àquele pai.<br />

Riu-se o Monjolo, com uma expressão bestial que parecia<br />

confirmar o dito.<br />

- Mas... replicou o Faustino. Eu cá é com a condição que o<br />

senhor sabe. Eu fôrro; a Rosa, para mim; e o mulato surrado como<br />

canhambola.<br />

- Pois está entendido! disse o Barroso. Foi o ajuste.<br />

Fuzilou uma chispa na rúbida pupila do africano.<br />

- E tu, paizinho?<br />

- Monjolo não quer nada, senão gimbo muito para comprar<br />

fumo e cachaça.<br />

- Fica <strong>de</strong>scansado.<br />

Separaram-se os cúmplices. O pajem voltou à casa, Monjolo à<br />

roça, e Barroso foi juntar-se a pouca distância ao Gonçalo Pinta, que<br />

o esperava com dois animais à <strong>de</strong>stra.<br />

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