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levara. Somente sabia-se que não estava em Itu, ou qualquer outra<br />
vila próxima. Esse abandono, que o marido parecia ter feito <strong>de</strong>la, foi<br />
o que <strong>de</strong>u coragem a Besita para resistir à <strong>de</strong>sgraça que a<br />
acabrunhara, sobretudo quando lhe conheceu todo o alcance.<br />
Mais <strong>de</strong> um ano, <strong>de</strong>pois que a abandonara o Ribeiro, teve<br />
Besita uma filha, cujo nascimento foi inteiramente ignorado em Santa<br />
Bárbara, pelo isolamento a que se con<strong>de</strong>nara a moça <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte<br />
do pai. Só o soube, fora Zana, Jão Bugre, cuja <strong>de</strong>dicação apurava-se<br />
com o infortúnio daquela por quem sacrificaria a vida, se pu<strong>de</strong>sse por<br />
este preço resgata-la aos dissabores.<br />
Um dias às ocultas, levou o capanga nos braços a criancinha a<br />
Campinas, a fim <strong>de</strong> a batizar o vigário <strong>de</strong>ssa vila, pondo-lhe o nome<br />
<strong>de</strong> Berta, que tinha sua mãe. Havia ajuntamento na igreja para<br />
assistir a um casamento: era o <strong>de</strong> Luís Galvão com D. Ermelinda.<br />
Custou ao Bugre conter-se, que no seu exaspero não insultasse ali<br />
em face <strong>de</strong> toda gente aquele homem <strong>de</strong> quem fora amigo, e por<br />
quem tinha agora a maior aversão. Reprimiu-lhe o primeiro ímpeto a<br />
lembrança <strong>de</strong> Besita e da mágoa que lhe podia causar o escândalo.<br />
Voltou sombrio e sinistro:<br />
- É preciso que eu mate esse homem! disse ele à moça<br />
entregando-lhe o filho.<br />
- Não quero que lhe faças o menor mal! respon<strong>de</strong>u Besita com<br />
império.<br />
- Mecê sofreria se eu o matasse?<br />
- Muito!...<br />
- Basta, Nhazinha! atalhou Jão.<br />
Algum tempo viveu Besita com sua filhinha no mesmo<br />
isolamento sem outra companhia além <strong>de</strong> Zana, que lhe <strong>de</strong>ra <strong>de</strong><br />
mamar, e o capanga, o qual a servia como um escravo humil<strong>de</strong> e fiel<br />
da casa. Convencida <strong>de</strong> que realmente seu marido a abandonara <strong>de</strong><br />
vez, habituara-se com o correr do tempo à placi<strong>de</strong>z e serenida<strong>de</strong><br />
daquela existência recôndita, que embeleciam as efusões do amor<br />
materno. No seio <strong>de</strong>ssa tranqüila solidão, cercada <strong>de</strong> afeições<br />
sinceras, sentia-se quase feliz.<br />
Seu prazer, nos momentos que lhe <strong>de</strong>ixava a criação, era<br />
enfeitar a filha, e fazer bonito o seu Bebê, arranjando-lhe ora toucas<br />
<strong>de</strong> rendas, ora roupas. Lembrou-se um dia <strong>de</strong> bordar-lhe um cinto<br />
com signo-saimão, zodíacos, figas e outras figurinhas <strong>de</strong> prata, como<br />
se usava então para livrar do quebranto.<br />
Não havendo por perto ourives capaz <strong>de</strong> lavrar os emblemas,<br />
mandou Besita o Bugre a Itu, a fim <strong>de</strong> os encomendar. Com<br />
repugnância, e um inexplicável constrangimento, ausentou-se Jão por<br />
alguns dias <strong>de</strong>ssa casa on<strong>de</strong> vivia quanto amava neste mundo e<br />
sobre a qual velava como um cão fiel e <strong>de</strong>dicado.<br />
Foi isto em uma terça-feira. Na quinta seriam oito horas da<br />
manhã, e Besita fazia saltar sobre os joelhos o seu lindo Bebê,<br />
sentada na alcova, com uma rótula aberta a meio. Eis que<br />
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