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A repetição <strong>de</strong>ssas pequenas <strong>de</strong>cepções acabaria sem dúvida por <strong>de</strong>lir<br />
completamente n’alma <strong>de</strong> Linda a imagem <strong>de</strong> Miguel. Berta o<br />
percebeu, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então empenhou-se em <strong>de</strong>sbastar as asperezas<br />
que magoavam o melindre da filha <strong>de</strong> D. Ermelinda.<br />
Não lhe era difícil transmitir os toques da elegância que, ao contato<br />
<strong>de</strong> Linda, prontamente se comunicara à sua alma, <strong>de</strong> tão pura gema<br />
como a <strong>de</strong>la, embora não a polisse o amor <strong>de</strong> mãe prendada e rica.<br />
A dificulda<strong>de</strong> estava em sofrer o gênio esquivo <strong>de</strong> Miguel esse<br />
<strong>de</strong>sbaste <strong>de</strong> costumes e maneiras, que se tinham impregnado em sua<br />
natureza, que faziam parte <strong>de</strong> sua pessoa, e o tinham formado à<br />
semelhança <strong>de</strong> seus patrícios e camaradas. Mudar esses modos era<br />
quase renegar o exemplo <strong>de</strong> seu pai, as tradições <strong>de</strong> sua terra, e<br />
envergonhar-se <strong>de</strong> ser paulista, o que bem ao contrário lhe inspirava<br />
um justo orgulho.<br />
Não resistiram, porém, estas suscetibilida<strong>de</strong>s ao encanto <strong>de</strong> Berta.<br />
Soube ela provar a Miguel que, antes <strong>de</strong> ser paulista da gema, era<br />
homem e <strong>de</strong>via ren<strong>de</strong>r preito à beleza e ao capricho da mulher. Com<br />
que raciocínios chegou a essa conclusão, bem se adivinha; o cérebro<br />
feminino é uma roda movida pela manivela do coração.<br />
Nessa metamorfose <strong>de</strong> Miguel, cuidou Berta que apenas a movia o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> contentar Linda; mas, sem o sentir, era também levada<br />
pelo prazer recôndito <strong>de</strong> ver seu irmão <strong>de</strong> leite subir na estima geral<br />
e primar entre os outros moços.<br />
Queria-lhe muito bem, a ele, como era então; porém, mais lhe havia<br />
<strong>de</strong> querer, quando fosse o que ela <strong>de</strong>sejava.<br />
Tudo isso fizera Berta para que Miguel e Linda se amassem; fora ela<br />
quem, diligente abelha, fabricara, sugando as flores <strong>de</strong> sua alma,<br />
aquele mel perfumado, <strong>de</strong> que os dois amantes libavam a fina<br />
essência.<br />
Mas iludira-se!<br />
Enquanto aquele amor fluía e refluía nela, como uma onda que<br />
banhava seu coração; enquanto Linda e Miguel se queriam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
sua alma, através <strong>de</strong> seu olhar ou <strong>de</strong> seu sorriso, i<strong>de</strong>ntificara-se por<br />
tal forma com essa afeição, que a sentia duplamente, por si e pela<br />
amiga.<br />
Era ela quem amava Miguel; mas por Linda. Era Linda a quem Miguel<br />
amava; mas na pessoa <strong>de</strong>la, Berta.<br />
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