amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
do seu destino – ela também gostava, em afirmações como esta, de
alimentar a sua lenda. Contrariando tal asserção, pode-se dizer que
Amália soube rodear-se das pessoas certas, aprender com a vida,
evitar as pessoas erradas, isolar-se do que lhe causava dor, ou seja,
gerir de uma forma muito inteligente, ainda que uma inteligência
instintiva, o seu mito e carreira. E assim sendo, se compreende o seu
carácter de ruptura do Fado tradicional e, sobretudo, da sua
expressão marialva e machista, para uma identificação mais lata da
alma portuguesa e de todo um povo com o qual profundamente sempre
se identificou.
Em Amália o trágico estava hieraticamente inscrito na escultura do
seu rosto de linhas clássicas, na profundidade do seu olhar e naquela
voz que bem podia vir do fundo dos tempos, estilhaçando-se em metal e
veludo, a ponto de nos deixar dilacerados de profunda emoção,
bastando para tanto que ela fizesse vibrar as suas peregrinas cordas
vocais e lhes imprimisse a dimensão contida de uma extraordinária
sensibilidade.
Entre os primeiros versos escritos por Amália, conta-se o Fado
“Entrei na vida a cantar” onde já se configura, apesar da sua pouca
idade, um sentido trágico da vida. E também uma solidão, que nada nem
ninguém pode preencher, expressa em “ e também cantei sozinha/ a minha
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