amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
chão, as cambiantes de voz, o grito, as pausas, o silêncio, o teatro de
cantar, eram fascinantes, mesmo para os que, lá fora, não dominavam a
nossa língua.
Amália cantava tudo o que lhe dava prazer, nunca sucumbiu ao rótulo
e postura de diva que tantas vezes lhe quiseram colar; era demasiado
livre para que assim se deixasse aprisionar. Ao lado dos grandes poetas
portugueses, dos canta-autores estrangeiros, cantava, com enorme
gozo, as espanholadas e os poemas surrealistas e brejeiros de muitos
dos seus fados. Nunca o prazer simples de cantar foi dominado pela
fria racionalidade, ou o cálculo de uma carreira programada ao
milímetro.
Amália fez mais pelos grandes poetas portugueses que todos os
estudos que sobre eles se fizeram, as teorias que se foram
construindo, tomando-os como desejável objecto, que todas as
bibliotecas e edições. Amália, ao cantá-los, restituiu-os ao povo
português, seu natural destinatário (retirando-lhes o pó das estantes e
dos livros) que neles e, através da sua voz e maneira peculiar de os
interpretar, naturalmente se reconheceu. Porque Amália, na sua
autenticidade, não obedecia a hierarquias sociais nem a visões elitistas
da Cultura.
Amália soube, pela sua personalidade e obra, ser a voz do
subconsciente colectivo de todo um povo que pouco deseja, que não
sabe lutar pelos seus objectivos, que acredita no destino e que, tantas
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