amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
Resignada com a sua condição, a de cantadeira, Amália lembra a
infância passada no lar dos avós maternos através do poema “Cá vou
cantando, cantando”. Lá se iniciou nas cantigas contra a vontade da
avó. Na sua biografia confirma o que em versos escreveu:
“ Cantei desde pequena e cantava o dia todo. A minha avó andava sempre a
mandar-me calar. Já ela me dizia: ”Se tiveres tanta habilidade para as letras
como para as cantigas...” “. 166
Amália continua a cantar, mas também continua a chorar. A sua vida
resume-se a lembranças, por vezes, muito dolorosas.
Antigamente, tudo tinha. Hoje tudo lhe vai fugindo.
Amália, por natureza, sente-se cada vez mais só. As suas companhias
dão pelo nome, respectivamente, de saudade e solidão como nos versos:
“ E a minha avó ralhava/Mas eu que no meu pensar/Não fazia mal
cantar/Cantava e não me calava” 167 .
Em “Fui atrás da lua” encontramo-nos perante uma nova simbiose
entre o Céu e a Terra.
Este poema pode dividir-se em duas partes distintas: a primeira,
reflecte o lado lunar de Amália. Fala-nos de alguém que anda perdido,
desnorteado, e avidamente procura refúgio na lua:
“ Fui atrás da lua/Levou-me o luar/Que na minha rua/Me andava a
espreitar” 168 .
166
SANTOS, Vítor Pavão dos, Biografia de Amália Rodrigues, 1ª edição, Lisboa,
Contexto editora, 1987, p. 22.
167
In, Antologia poética: ‘corpus poético’ amaliano: poema “Cá vou cantando,
cantando”, p. 290.
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