amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
moda, um ser sem voz própria, como tantas vezes acontece nos vários
sectores do universo artístico.
Porque Amália era autêntica. Porque fiel às suas raízes e à voz do
coração. Falava várias línguas, gostava de Piaf, Aznavour, Bécaud e
Irene Papas, e falava deles com o mesmo à-vontade com que surripiava,
depois de acordar e no início da tarde, um carapau frito ou umas
azeitonas, ao passar pela cozinha. É que, sendo uma lenda viva, Amália
nunca levou a sério essa condição, algo que a teria esclerosado e
parado no tempo. Só progride, aliás, o artista dotado de uma constante
dose de humildade.
Numa Europa de Nações e um pouco por todo o Mundo, Amália
internacionalizou o Fado e, através dele, a Cultura Portuguesa, levando
o que de mais autêntico tem um povo: a sua música e poetas, os seus
sentimentos, emoções, enfim a sua gramática sentimental, o que o
torna único e singular. O todo, maravilhosa e inconfundivelmente,
servido por uma voz tão rica em cambiantes e cores.
A fidelidade a si mesma, o não deslumbramento com a fama que lhe
foi chegando, assim de mansinho e sem a procurar, como quem cumpre
um Destino antecipadamente escrito na palma das mãos, reflexo do
fatalismo português, são ainda razões do êxito nacional – um povo que a
reconhecia como sua, como um dos seus – e internacionalmente, já que
a sua máscara, postura de palco, figurino, aquelas mãos sempre
inquietas como aves que querem levantar vôo mas se acham presas ao
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