amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
Em “Faz-me pena”, Amália revela-se a Amália carente de amor,
factor que se constatava no comportamento quotidiano e nos
espectáculos, razão maior da sua vida . Quem acompanhou os últimos
anos da cantora percebeu o sofrimento que dela se apossou quando
deixou de cantar. Porque os aplausos, a presença e amor do público
rodeavam Amália de uma segurança e afectividade, fundamentais para
quem não possuía uma auto-estima necessária e suficiente para o
desenho de uma personalidade equilibrada e harmónica. Eles eram o
eco da falta de Amor que foi encontrando ao longo da própria vida. É
traço comum aos grandes mitos e ícones, seja no teatro, no cinema ou
na canção, o de viverem e morrerem jovens e sozinhos. É isso que ajuda
a construir a lenda. Citemos por exemplo, os casos de James Dean,
Marilyn Monroe, Jim Morrison, Janis Joplin. Amália contrariou um
pouco este padrão, na medida em que morreu com setenta e nove anos.
Daí o não encarar equilibradamente o seu envelhecimento e a perda da
sua voz, o que era trágico numa mulher que sempre tentou compensar o
vazio da sua vida pessoal com elementos exógenos, como os seus
sucessos públicos, os seus concertos, o carinho, o amor e as palmas dos
seus diversos públicos. Tendo tudo isto acabado, bem como a sua voz,
não havia já razão para continuar a viver. Pode-se então dizer que a
Morte de Amália, na medida em que foi o remate de uma fase final
145 Idem, p.283.
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